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Especial | Borussia Dortmund abre debate: torcedor deve ser sócio ou cliente do clube?

CEO do clube quer o fim da nova rodada de segunda-feira da Bundesliga e atacou a visão dos clubes da Premier League

Especial | Borussia Dortmund abre debate: torcedor deve ser sócio ou cliente do clube?

02 de março de 2018

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Uma novidade da Bundesliga para a atual temporada tem desagradado em cheio o torcedor alemão. À exemplo do que ocorre na Premier League (e também no Brasileirão, diga-se), a elite alemã abriu uma rodada em plena segunda-feira. Por duas oportunidades, protestos tomaram conta do gramado e das arquibancadas. No primeiro caso, no duelo entre Eintracht Frankfurt e RB Leipzig, torcedores jogaram bolinhas de tênis no gramado. Já no Signal Iduna Park, a famosa Muralha Amarela registrou clarões fruto de apoiantes do Borussia Dortmund que não foram ao estádio em protesto pelo dia da partida. Sobre os aurinegros, Hans-Joachim Watzke, CEO do clube, escancarou sua insatisfação uma vez que poderá impactar diretamente nos seus cofres.

De imediato, Watzke espera que esta experiência seja descartada o mais rápido possível. Na Inglaterra, apesar da reclamação dos torcedores em determinadas ocasiões, a Premier League afirma estar à mercê dos donos dos direitos de transmissão que vislumbram mais um dia de alta na audiência em plena segunda-feira à noite.

Em entrevista à BBC Sport, o presidente do BVB abriu uma importante discussão sobre modelos antagônicas de como um torcedor deve ser visto. Ao registrar uma baixa de 30 mil torcedores na rodada de segunda diante do Augsburg, ainda que todos tenham comprado as entradas, Watzke bradou: “No futebol inglês, os fãs aceitam, afinal, são mais clientes do que membros do clube. Hoje, temos 154 mil associados. Todos querem ser parte do clube, não tratados como clientes. Essa é a grande diferença. Esse é o espírito que diferencia o futebol alemão dos demais”.

Como ocorre na Premier League, a nova rodada é fruto do novo acordo de TV fechado pela Bundesliga que será válido até 2021. Por £ 4.1 bilhões, os direitos domésticos pertencem aos canais Sky Deutschland e Eurosport. Watzke estima que 80% dos torcedores sejam contra jogos no início da semana. “O contrato de TV não será renegociado até 2021. Talvez algo aconteça antes disso, mas 80% dos fãs de futebol na Alemanha não querem esta novidade e você não pode fazer nada contra 80%. Nada”.

Seguindo no modelo inglês e deixando claro que a essência do futebol alemão deve ser mantida, o presidente do Dortmund ainda atacou outra característica da elite inglesa: a do capital estrangeiro. “Não queremos proprietários da América, da Arábia ou da Rússia”.

Por outro lado, sabe-se que a distribuição financeira mais democrática faz com que a Premier League se torne competitiva e os clubes sejam financeiramente mais fortes. Neste sentido, Watzke destacou que até mesmo equipes rebaixadas para a segunda divisão na Inglaterra conseguem ter a mesma saúde financeira que o Borussia Dortmund.

Recentemente, o debate sobre o fim da regra “50+1” tomou conta dos bastidores da Bundesliga. Esta possível flexibilização permitiria que os clubes pudessem atrair investimentos de fora em um esforço de se aproximar da força de um Manchester City ou Chelsea, para citar dois modelos mais atuais. Watzke acredita que isso não irá ocorrer por uma tradição no país e, principalmente, por uma rejeição dos membros do próprio clube. E, como já destacamos, o torcedor por lá está sempre em primeiro lugar.

“Atraímos 81 mil torcedores todos os jogos. Mas temos 28 mil lugares de pé, onde o custo dos ingressos é entre € 11 e € 14. Esse é o caminho do Borussia Dortmund. No momento, há mais dinheiro na Inglaterra, mas talvez daqui a 20 ou 50 anos, possamos mostrar que nossa maneira foi a melhor”. Concorda?

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