Coluna

Venderam o Mickey!

Fabio Wolff aborda a falta de identidade dos jogadores entre uma geração que consome o futebol europeu com cada vez mais frequência

Venderam o Mickey!

03 de outubro de 2018

3 minutos de Leitura

Fábio Wolff
Fábio Wolff
Fábio Wolff é sócio-diretor da Wolff Sports, e professor em cursos de MBA em Gestão e Marketing Esportivo na Trevisan Escola de Negócios

A notícia caiu como uma bomba, estava em todos os lugares, em todos os veículos: a Disney vendeu o Mickey Mouse! Muitos não entendiam… Como puderam? Como puderam? A Disney vendeu um dos seus principais astros, um dos responsáveis por trazer turistas do planeta todos aos seus parques, que fatura muitos milhões de dólares com os produtos licenciados e que atrai novos fãs a cada minuto.

Se o parágrafo acima fosse verdadeiro, Walt Disney se reviraria no caixão, afinal, como poderiam vender a sua principal estrela, a ponto de depreciar o próprio produto!?

O Brasil não vendeu 187 astros na última janela de transferências internacionais de atletas (nós somos, atualmente, o país com o maior número de atletas atuando no exterior), pois grande parte deles nem figurará na lista dos jogadores de maior destaque no esporte. Mas alguns deles se tornarão verdadeiros Mickeys, pois ajudarão a fortalecer os principais campeonatos europeus na comercialização dos seus direitos de transmissão mundo afora, contribuirão na venda de produtos licenciados, de season tickets, camisetas, ingressos, no match day e por aí vai…

E por aqui? Por aqui, os atletas têm se transferido para o exterior cada vez mais cedo, devido às necessidades financeiras dos clubes brasileiros, o que impossibilita criar qualquer tipo de identidade desses atletas com essas instituições, assim como ocorria no passado. Como uma das principais consequências disso, os campeonatos realizados no Brasil têm apresentado muitos jogos com qualidade técnica sofrível, atrapalhando o futebol como um produto comercial e de marketing.

Os clubes brasileiros deveriam estar preocupados não apenas com o cenário descrito acima, mas com a nova geração que consome o futebol europeu com cada vez mais frequência. Tanto que não é raro ver crianças com camisetas do Barcelona, Real Madrid, Milan e outros clubes da Europa.

No Bourbon Shopping, em São Paulo, o PSG promove a sua escolinha oficial (Foto: Fabio Wolff)

Se o modelo de negócio por aqui não mudar, ou seja, os clubes tornarem-se entidades com fins lucrativos, empresas organizadas e competitivas, é pouco provável que tenhamos uma alteração nesse cenário atual. É uma pena, afinal, os clubes produzem uma quantidade enorme de atletas e o povo é apaixonado pelo futebol, que é quase uma religião.

Enquanto as empresas buscam aprimorar os seus produtos ou serviços em busca de uma fidelidade cada vez mais improvável por parte dos consumidores, o futebol brasileiro, muitas vezes sem grande organização, não trata o torcedor como um consumidor, mesmo possuindo fidelidade por parte dos seus torcedores.

Apesar de pouco provável, espero que as coisas mudem com rapidez por aqui, caso contrário o rótulo de “país do futebol”, que já é questionado por muitos mundo afora, será substituído por apenas “país exportador de futebol”.

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