Não poderíamos fechar a “Semana da Premier League” em melhor estilo. O MKTEsportivo teve a honra de entrevistar Paulo Andrade, um dos grandes narradores da televisão brasileira e com cadeira cativa no estúdio de transmissão dos principais duelos da Premier League.
Com um toque especial a cada jogo transmitido pela emissora, Paulo mostra que seu conhecimento vai muito além das quatro linhas, abordando com tranquilidade assuntos da esfera do marketing esportivo. Neste momento, ele narra sua décima sexta temporada consecutiva de elite inglesa, o que o credencia como a voz da liga no Brasil.
Paulo nos contou como o trabalho de conteúdo da ESPN tem contribuído para o aumento da audiência e consumo do fã de futebol no canal, além da valorização da liga a cada nova concorrência pelos seus direitos de transmissão. Ele ainda opinou sobre a entrada de dinheiro estrangeiro nos clubes e sua visão sobre o avanço do streaming na indústria.
Paulo, indo direto ao ponto, como você se sente sendo uma das principais vozes e representante da Premier League no Brasil? E que seguirá, pelo menos, até 21/22.
A responsabilidade é muito grande. Estou diante da melhor Liga nacional do planeta, com craques, grandes jogadas, jogos de tirar o fôlego, e etc. A qualidade da narração tem de estar no nível de tudo o que o campeonato representa, e por isso nunca descanso. Estou sempre querendo aprender mais sobre tudo o que envolve a Premier League, e me preparo para cada jogo que narro como se fosse o primeiro da minha carreira.
Na ESPN, entre 15/16 e 16/17, a audiência do inglês cresceu 51%. Excluindo o fato da Premier League reunir diversos craques, acredita que o trabalho editorial e de conteúdo feito pela emissora, seus profissionais e espaços dentro dos programas, contribui para esta evolução? O brasileiro é um forte consumidor deste “além dos 90 minutos”?
Sem dúvida. A cada temporada os detentores de direito de transmissão da Premier League tem acesso a maiores possibilidades: entradas ao vivo da beira dos campos, entrevistas exclusivas com craques brasileiros e estrangeiros, posição de entrevistas após as partidas, e etc. Apesar de não fazermos mais transmissões “in loco”, diretamente dos estádios – o que foi peça fundamental do crescimento da cobertura e paixão do brasileiro pelo campeonato -, hoje, a ESPN tem dois repórteres na Inglaterra, o que alimenta os programas e aproxima mais tudo o que envolve o futebol inglês do fã de esporte dos canais ESPN. E claro, transmitindo o campeonato por tantos anos, temos cada vez mais conhecimento para tratar do assunto também dentro dos programas, o que ajuda bastante no crescimento de audiência.
Um dos grandes diferenciais da ESPN é aliar a narração do jogo em si com aspectos extra-campo, citando naming rights, abordando acordos de patrocínio e até mesmo valores. A parte mercadológica, da Premier League vista como um produto/negócio, é um tema que o interessa?
Sim. A ESPN não nos proíbe de comentar ou citar aspectos mercadológicos que envolvem a Premier League. Quando a informação é relevante, nos sentimos à vontade para da-la. Nessa semana, por exemplo, foram vendidas parte das cotas de transmissão da Premier League para duas TVs inglesas a um custo de mais de 4 bilhões e meio de libras. É informação, mostra o tamanho do produto que trazemos aos assinantes brasileiros, logo, levaremos até eles durante nossas transmissões. Algo natural.
O atual contrato de transmissão doméstico da Premier League é de £ 5.1 bilhões até 2019. Para o pós, acredita-se que o streaming possa chegar com força e aumentar os valores envolvidos. Como fã e consumidor de futebol, as transmissões através de plataformas digitais e redes sociais representam o formato do futuro ou a Tv seguirá soberana nesta entrega?
Boa pergunta. Imagino que haverá lugar para todos, mas é inegável que o futebol “on demand” deve ganhar cada vez mais espaço. Já ouvi e li muita coisa a respeito dessa transformação, acredito que a mudança ou acréscimo de plataformas seja uma tendência.
Aliando finanças e competitividade, qual a sua visão a respeito da chegada de investidores estrangeiros ao futebol inglês?
Questão delicada. A variação da quantidade de dinheiro utilizada, dos objetivos, e da forma de administrar varia caso a caso entre os investidores que “compram” alguns clubes ingleses. É inegável que, olhando só para o campo, a qualidade da Liga tende a aumentar. Quanto mais dinheiro envolvido, maior é a chance da montagem de grandes times. Os valores das negociações nas duas últimas janelas, especialmente, foram inflacionados de forma assombrosa. A procedência de cada libra usada por esses investidores é uma incógnita, e cada vez mais me sinto convencido de que a investigação fica em segundo plano, na Inglaterra. No campo, a tendência é de que a Premier League vá ficando muito melhor que os outros campeonatos a cada temporada. Hoje, um jogador já até troca a possibilidade de estar em time de ponta de outro país por um contrato com um time de “meio de tabela”, na Inglaterra. Ganha a Premier League.
Neste sentido, os sucessivos recordes de transferências por parte dos ingleses pode acarretar em um abismo ainda maior em relação as demais ligas? Quão prejudicial isso pode ser para a indústria?
Exatamente, como respondi acima. A impressão que da é de que os clubes ingleses podem se tornar “predadores” no mercado de transferência. Ou seja, só os próprios clubes ingleses (e algumas exceções), possam contratar jogadores de outros clubes ingleses, e ao mesmo tempo, retirar jogadores importantes de outras Ligas e seduzir as principais promessas de outros continentes. Num mundo ideal, seria interessante que os clubes das demais 4 Ligas importantes da Europa tivessem as mesmas oportunidades, mas pelo jeito, o futuro aponta o caminho contrário.
Por fim, Chelsea x Manchester United e Manchester United x Manchester City da última temporada representaram as maiores audiências da história da ESPN na Premier. Para você, são os maiores clássicos do futebol inglês atual?
Acho que, nesse caso, a audiência não reflete exatamente o que os jogos representam. Claro que são grandes jogos, e envolvem inúmeros aspectos que atraem o assinante dos canais ESPN. Em relação à audiência, existem outros fatores que devem ser levados em consideração, como os dias e horários em que foram disputados, o que foi exibido antes pelo canal (o que chamamos de “trilho”, e alavanca a audiência do que vem a seguir), o momento de cada time no campeonato, e etc. Por exemplo, o Manchester City é o time inglês que mais traz audiência aos canais ESPN na temporada atual, e trazia ainda mais enquanto Gabriel Jesus vivia o seu ápice pós-chegada ao país. É circunstancial. Muita gente quer ver o time de Pep Guardiola em ação, mesmo sem que o City seja o maior time do país. Como clássico, na essência, nenhum outro supera Manchester United x Liverpool, na Inglaterra, apesar de existirem outros tantos com ricas atrações e histórias, que contamos diariamente nos canais ESPN.