Indústria

‘A maior propriedade do esporte é o público’, diz Gaules

Maior streamer do país definiu sua visão em relação a importância de levar o esporte para o maior número de pessoas

‘A maior propriedade do esporte é o público’, diz Gaules

03 de março de 2021

5 minutos de Leitura

“A maior propriedade do esporte é o publico”. Foi assim que Alexandre “Gaules” Borba definiu sua visão em relação a importância de levar o esporte para o maior número de pessoas, sem a necessidade de se prender ao modelo convencional. E ele fala com muita propriedade. Apenas em 2020, ele bateu 7.69 bilhões de minutos assistidos e 20.9 milhões de espectadores únicos, corroborando sua visão de entrega de conteúdo.

Em entrevista ao MKTEsportivoCast, o streamer contou como sempre acreditou na intersecção do esporte eletrônico com o convencional, sendo até mesmo tema de conversas com jogadores da Seleção Brasileira.

“O esporte eletrônico é uma vertente do esporte convencional, e eu sempre acreditei que em algum momentos os dois teriam que convergir. Era impossível que isso não ocorresse. Eu conversei sobre isso com o Casemiro, Paquetá e Neymar, e eles falaram que o sentimento deles era o mesmo. Eu ficava tão ansioso e sentia as mesmas coisas jogando Counter-Srike, do que quando eu jogava futebol. Você trabalha várias coisas do esporte e eu pensava que seria o futuro do esporte convencional também”, comentou Gaules.

Hoje, o stramer é dono de uma das maiores comunidades do país, carinhosamente chamada de Tribo. Para ele, uma verdadeira família na qual todos se ajudam e se preocupam uns com os outros. No início, o seu objetivo era criar conexões com pessoas dos mais variados perfis, sendo uma válvula de escape para o delicado momento que atravessava em sua vida.

“O que eu queria era me juntar com pessoas e estabelecer relações em que você cria conexões. Hoje, nos acostumamos a achar mais problemas para se relacionar com alguém, do para se aproximar. Na stream, eu entendi que a Twitch é uma plataforma de comunidade. Eu comecei a ver ali como uma terapia, em relação a não estar em um momento bom da minha vida, e também a chance de construir uma comunidade. As pessoas começaram a entender que poderiam ter um lugar em uma sociedade onde é difícil ter empatia pelo próximo, onde você pode ir, mesmo não estando muito bem, e ter uma interação com quem não está preocupado com o que você faz, mas sim nos seus valores”, detalhou Gaules.

Falando sobre negócios no setor, uma tendência do mercado de eSports no que tange broadcasting é de criadores de conteúdo serem adicionados às organizações, seja torneios ou equipes. Desta maneira, é possível explorar formatos diferenciados, conteúdos proprietários, branded content, produção de vídeo, cobertura de eventos, torneios e gerar novas experiências. Para Gaules, a Twitch democratizou o acesso aos torneios e, principalmente, de abrir novos canais para realizar transmissões.

“Hoje, uma transmissão feita na Twitch é mais relevante que uma feita no Sportv. Não fomos nós que perdemos tempo. As grandes empresas tem um tempo maior para mudanças. A internet é dinâmica. Uma pessoa dentro de um quarto consegue transmitir com a qualidade que o público quer, com investimento mais baixo e uma dinâmica mais verdadeira e próxima do que desejam. Ficamos muito menos dependentes de estruturas físicas e até equipes, e mais dependente da criatividade”, ressaltou.

Para Gaules, as transmissões esportivas nas emissoras de Tv aberta e fechada mais afastam do que aproximam o público mais jovem. Desta maneira, se faz necessário apostar em conteúdos multiplataformas, para que todos possam ter acesso aos torneios e crescer em audiência.

“As pessoas vendem barato o que é a maior propriedade do esporte que é o publico. Quem faz o esporte é o publico. Por que os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo são tão grandes? Porque elas passam em todos os lugares”, pontuou.

Outra questão colocada por Gaules foi que as streams humanizaram as transmissões e elevaram o nível das conexões. Para ele, essa humanização não deixa uma entrega menos profissional, pelo contrário, ela se encaixa naquilo que o público deseja e que nunca encontrou no formato convencional. Afinal, ela foi assim desde o início.

“O formato convencional se prendeu tanto a certas coisas, que hoje para ele sair disso é difícil. Eu não sou menos profissional se estou transmitindo uma partida, o interfone toca e eu tenho que atender. O conceito ‘profissional’ que as pessoas enxergam é uma ilusão. Você vai ter fome, sede, alguém vai bater na porta e você vai entender. Quando comecei a fazer stream, tinha dias que eu estava extremamente mal pela depressão. As pessoas perguntavam se eu faria transmissão daquele jeito, já que eu não estava bem. Eu falava que se não fizesse quando estava daquele jeito, porque faria só quando estivesse bem?”, indagou.

Um dos movimentos mais recentes de sua carreira foi a parceria fechada com a Omelete Company para a transmissão das etapas do circuito ESL Pro Tour de Counter-Strike: Global Offensive com dois tipos de cobertura: uma exibição no canal do streamer, outra nos canais SporTV e na Gaules TV. Neste processo, Gaules afirmou que profissionalizou ainda mais sua entrega para anunciantes, contando com uma estrutura maior de pessoas. Além disso, passou a ser ainda mais criterioso com o que chega na Tribo.

“Se eu não vejo verdade, se eu não vejo que é algo que vá agregar a comunidade, ou não tem valores que compactuam com os nossos, eu não fecho [um patrocínio] de maneira nenhuma. Nesse período, eu mais neguei marcas, que aceitei. Dentro de um mercado relativamente novo, nós trouxemos uma qualidade na relação com as marcas, que elas se sentem muito mais seguras. Você tem que fazer por merecer o investimento das grandes empresas e nós profissionalizamos muito neste quesito”, finalizou.

A entrevista completa com Gaules está disponível no Spotify. Clique aqui e ouça.

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