Coluna

O mundo da Copa do Mundo

A estreia de Thiago De Rose como colunista do MKTEsportivo

O mundo da Copa do Mundo

31 de janeiro de 2022

5 minutos de Leitura

Entre 20 de novembro e 18 de dezembro de 2022, a primeira Copa do Mundo no Oriente Médio vai acontecer aqui no Qatar. Essa história começou há mais de 11 anos, quando a FIFA votou de maneira inedita as sedes das Copas de 2018 e 2022.

Imediatamente, essa nação de pouco mais de 2,8 milhões de habitantes iniciou os preparativos com a formação do Supreme Committee for Delivery and Legacy, a empresa onde trabalho atualmente. Este comitê é o responsável pela entrega, entre outras coisas, dos estádios e toda infraestrutura necessária para a realização da Copa do Mundo. Além disso, como o próprio nome diz, também é o responsável pelo legado que será deixado ao Qatar após a Copa, incluindo toda a estratégia de desmontagem parcial e ajuste dos 8 estádios. O SCDL cuida dos interesses do País-Sede (Host Country) e auxilia a FIFA a entender e a se adaptar a todas as particularidades do país e cultura local.

Além do SCDL, outras duas entidades atuam ativamente na organização da Copa do Mundo de 2022. A propria FIFA, que comanda as ações desde Zurique, é a dona de fato do evento e responsavel por liderar decisões estratégicas como patrocínios, direitos de transmissão, tabela dos jogos e precificação e venda de ingressos, entre outras. Por último, o Q22 é uma joint venture entre a FIFA e o SCDL e pode ser considerado o “braço operacional” da FIFA no Qatar. O Q22 é a entidade responsavel por entregar de fato o evento e liderar as operações de transporte, logística, serviços ao espectador e acesso ao estádio.

Ambos SCDL e Q22 tem seus escritórios no mesmo prédio, na área de West Bay, o centro financeiro de Doha. É também o mesmo edifício onde ficam os escritórios da QFA (Qatar Football Association) e da QSL (Qatar Stars League, a liga de futebol do Qatar). Ou seja, a “família do futebol” do Qatar está concentrada no mesmo local, o que facilita muito a sinergia entre as entidades e os processos de tomada de decisão.

A Copa do Mundo no Qatar será diferente de todas as outras, não somente por ser a primeira no chamado “mundo árabe”. O Qatar é um país pequeno tanto em área quanto em número de habitantes. Doha é praticamente a única cidade do país. É como se a Copa do Mundo fosse inteira disputada em Brasília. Parem um pouco para pensar e imaginem o impacto em termos de construção e adequação de estádios e centros de treinamento para 32 equipes, hotéis para toda a entourage da FIFA, para as delegações dos países, equipes de transmissão e, principalmente, para os torcedores. Implicações no trânsito e vias de acesso, aeroporto (apenas 1 aeroporto para turistas no país inteiro) e a própria estrutura da cidade para receber turistas: restaurantes, pontos turísticos, comércio, hospitais, serviços etc.

Este é o grande desafio que todos que trabalham na organização da Copa do Mundo no Qatar enfrentam diariamente: encaixar um evento que nos últimos anos foi realizado em países continentais como Brasil e Rússia, dentro de uma cidade.

Mas o tamanho compacto do Qatar tambem tem suas vantagens. A principal, e tambem amplamente comunicada nas campanhas de marketing, é a possibilidade de um torcedor assistir a mais de um jogo por dia porque os 8 estádios da Copa estão espalhados em um raio de no máximo 1h30 de distância (de carro) um do outro. Essa distância curta também tem impactos significantes na estrutura organizacional das entidades, empresas e equipes envolvidas com o torneio:

  • O budget é concentrado no Host Country (País-Sede) e deixam de existir as figuras de Host City (Cidade-Sede) e seus respectivos comitês e equipes locais, gerando uma economia em despesas de pessoal e de produção;
  • Os times não precisam se deslocar. Basta um hotel e um centro de treinamento para o período inteiro. Não haverá viagens de avião e reservas em diferentes hotéis. Isso serve também para o imenso contingente de imprensa;
  • Patrocinadores não precisam pulverizar suas ações e ter equipes locais em diferentes cidades. Tudo acontecerá em Doha e no raio ao redor dos 8 estádios;
  • Torcedores terão um voo de ida, um de volta e somente uma acomodação durante todo o período. Inclusive será possível comprar ingresso para mais de um jogo no mesmo dia, além de poderem curtir o único Fan Fest na região central de Doha com torcedores de todas as seleções;
  • A tabela de jogos será definida após o Sorteio Final, com a FIFA determinando os jogos em horários que favoreçam a audiência nos países envolvidos no jogo. Por exemplo, é muito improvável que o Brasil jogue às 13h do Qatar (7h da manhã do Brasil). Em Copas passadas, isso já seria cravado desde o início.

Todos estes fatores fazem da Copa do Mundo do Qatar 2022 uma Copa única. O que não é único e já deve ser encarado como tradição em grandes eventos esportivos é a presença maciça de brasileiros envolvidos em diversas áreas da organização.

O Brasil foi agraciado por uma sequência de grandes eventos que se iniciou no Pan de 2007 no Rio (e continuou com Copa das Confederações 2013, Copa 2014, Rio 2016, Copa América 2019 e 2021, além de outros eventos) e hoje em dia felizmente nossos profissionais carregam muita experiência e colaboram em eventos mundo afora, mas isso é tema para uma próxima coluna.

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