Coluna

Os brasileiros na Copa

O profissional brasileiro é extremamente valorizado e requisitado quando se trata de grandes eventos

Os brasileiros na Copa

10 de março de 2022

6 minutos de Leitura

Os craques da amarelinha só devem desembarcar aqui em Doha às vésperas da Copa do Mundo. Porém, há anos uma verdadeira “seleção brasileira” de profissionais de grandes eventos esportivos se estabeleceu em Doha e trabalha para que as estrelas do futebol e os torcedores possam ter uma ótima experiência no Qatar.

Hoje em dia, o profissional brasileiro é extremamente valorizado e requisitado quando se trata de grandes eventos. O país recebeu uma série de eventos esportivos internacionais nos últimos 15 anos que formou uma geração de especialistas nessa área.

Os brasileiros acumularam muita experiência, flexibilidade e convívio com estruturas organizacionais globais, formando uma rede de relacionamento incrível não só com seus compatriotas, mas também com profissionais ao redor do mundo.

Podemos dizer que o período de ouro nos grandes eventos do Brasil começou com o Pan de 2007 no Rio de Janeiro. Terminado este ciclo, imediatamente começou o da Copa de 2014, que absorveu muitos profissionais que estiveram em 2007. Grande parte da diretoria do COL (Comitê Organizador Local) da Copa 2014 era formada por ex-funcionários do Pan 2007, além de posições relevantes nas SECOPAS (Secretarias Estaduais). A FIFA também se beneficiou dessa mão de obra com seu escritório no Brasil, que contava com aproximadamente 35 profissionais de diversas nacionalidades e onde tive a oportunidade de atuar.

Logo após a Copa, muitos profissionais migraram para a Olimpíada Rio 2016 e outros grandes eventos foram realizados na sequência em solo brasileiro como a Copa América de 2019 e de 2021 (organizada às pressas após a desistência de Argentina e Colômbia), Mundial da FIFA Sub17 em 2019, entre outros. Em paralelo, os experts brasileiros começaram a se aventurar pelo mundo. Muitos continuaram trabalhando para a FIFA, tanto nos seus quadros fixos quanto em oportunidades temporárias na organização da Copas da Rússia e Feminina na França, além de vários outros torneios de base em diversos países.

A invasão ficou evidente nos Jogos da Juventude de 2018 em Buenos Aires e se expandiu para o Panamericano de Lima em 2019, chegando até a Olimpíada de Tóquio 2020. Enquanto isso, alguns mais aventureiros marcavam presença em eventos como os Jogos Asiáticos de Artes Marciais no Turcomenistão em 2017 e a trinca Mundial de Clubes, Copa da Ásia e Special Olympics em Abu Dhabi entre o final de 2018 e o início de 2019.

Saindo do esporte, mas ainda na linha de grandes eventos globais, também há uma legião brasileira finalizando os trabalhos na Expo Dubai 2020 (que por conta da pandemia começou em Outubro de 2021 e terminará em 31 de março de 2022) e muitos deles certamente se mudarão em breve para o Qatar, ocupando os últimos cargos disponíveis na Copa de 2022.

Essa sequência enorme de eventos em um período de menos de 15 anos proporcionou a vários brasileiros a chance de se aprimorar profissionalmente e evoluir suas carreiras dentro de ambientes de muita pressão, em que a corrida contra o relógio e restrições de budget são muito comuns à medida que o evento vai se aproximando. Além disso, profissionais que puderam participar de múltiplos eventos, atuaram em diferentes áreas ampliando sua visão de projeto e enriquecendo seus currículos para oportunidades futuras.

Voltando à Copa de 2022, há cerca de 200 profissionais brasileiros espalhados pelas diversas entidades envolvidas com a Copa (FIFA, Q22, Supreme Committee, fornecedores, patrocinadores e consultorias). Os níveis e cargos variam desde coordenadores até venue managers e gerentes gerais. Há desde “veteranos” com muita experiência na bagagem até passageiros de primeira viagem, iniciando suas carreiras em grandes eventos.

A migração de brasileiros para o Qatar se intensificou no segundo semestre de 2021. Alguns poucos compatriotas estão por aqui há mais de 2 anos e a grande maioria começou a chegar quando cargos de áreas mais operacionais como TI, Serviços ao Espectador, Voluntários, Venue Management, Marketing, Ticketing e Serviços às Equipes começaram a ser preenchidos. Outra área dominada pelos brasileiros é a área de Overlay, ou seja, as estruturas temporárias que são construídas para atender a especificidades do evento, como tendas de workforce, centros de ingresso e de mídia, entre outros.

O brasileiro definitivamente é valorizado por “chegar e resolver”. São vistos como profissionais de fácil captação, até por causa da desvalorização do Real, e rápida adaptação. Além de serem “mão na massa” e, se quiser usar um termo da moda, “skin in the game”.

A comunidade brasileira aqui em Doha, além de gerar um valioso networking para futuras oportunidades, obviamente extrapola o escritório. O pessoal acaba se tornando amigo fora das quatro linhas e as famílias também vão se conhecendo e ajudando umas às outras na adaptação, indicando os melhores médicos, recomendando escola para as crianças, organizando passeios e eventos sociais. Tudo para amenizar a saudade de casa e ajudar na adaptação especialmente das pessoas que abriram mão de suas vidas no Brasil para acompanhar quem veio a trabalho.

Como curiosidade final, duas outras comunidades estão presentes em peso aqui no Qatar. Os gregos geralmente ocupam os cargos mais altos na organização porque foram os primeiros a chegar. Muitos vieram para cá direto da Olimpíada de Atenas, em 2004, pois Doha sediou os Jogos Asiáticos de 2006. Eles formaram a base da concepção da candidatura do país à Copa e são a primeira linha abaixo dos qataris no comando do Supreme Committee e do Q22. Outra comunidade fortíssima aqui, e com perfil muito similar à da brasileira, é a comunidade russa. A Rússia também teve sua sequência de grandes eventos (Olimpíada de Inverno em Sochi 2014 e Copa do Mundo 2018) e a situação econômica do país também contribui para que vários profissionais qualificados migrassem para o Qatar.

Se inspirou e ficou com vontade de tentar a sorte aqui do outro lado do mundo? Ainda há muitas vagas abertas para a Copa do Mundo. Vale a pena acompanhar regularmente o LinkedIn e o site Global Sports Jobs, onde as vagas do Q22 são publicadas.

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