Coluna

Liga de clubes de futebol: O melhor exemplo está ao lado!

O futebol brasileiro deveria aprender com o ‘irmão caçula’ Futsal

Liga de clubes de futebol: O melhor exemplo está ao lado!

11 de maio de 2022

4 minutos de Leitura

Fellipe Drommond
Fellipe Drommond
Sócio Diretor do Grupo TFW, CEO do Magnus Futsal e CMO da More Skills

Nos últimos meses a notícia sobre a criação de uma nova Liga de Clubes de Futebol com o objetivo de administrar todos os ativos comerciais das competições e potencializar a geração de receitas ganhou muito destaque na mídia esportiva e causou diversas dúvidas na cabeça dos milhões de torcedores brasileiros.

O modelo de Liga Esportiva é cogitado durante muitos anos no Brasil, mas ganhou força e destaque após a vitória de Ednaldo Rodrigues para a presidência da CBF – Confederação Brasileira de Futebol , pois o mesmo sinalizou aos clubes que apoiaria a iniciativa independente das entidades esportivas, que incentivados pela nova regulamentação da SAF – Sociedade Anônima do Futebol entenderam que este pode ser o momento exato para faturar com a iniciativa , já que os olhos de grandes investidores esportivos globais estão voltados para o futebol brasileiro.

Inspirados na Premier League e na La Liga, campeonatos nacionais de clubes da Inglaterra e Espanha respectivamente, a possibilidade de internacionalização da marca, transmissão dos jogos para centenas de países, licenciamento de produtos , intercâmbio de clubes e profissionais, desenvolvimento do espetáculo, padronização dos gramados, entretenimento, inovação e investimento de capital estrangeiro são nuances que enchem os olhos de qualquer entidade esportiva endividada e sem perspectiva de estruturação financeira , no caso 99% dos clubes de futebol do nosso país.

De fato, ambas as ligas devem ser exemplo para a criação do modelo brasileiro, mas é necessário estudar e aprender com os diversos erros cometidos por elas no inicio de suas jornadas para conseguir êxito e quem sabe um dia poder brigar pelo posto de principal liga de futebol do mundo.

Em meio a tantas especulações e discussões, a desunião das equipes está sempre voltada para questão das divisões de receitas. Clubes que possuem maiores torcidas, audiências e histórico de títulos querem ter uma participação maior nas receitas da liga, principalmente sobre os direitos de TV, do que os clubes com menor representatividade nestes quesitos mas que serão maioria sempre em qualquer assembleia democrática. Então, como equacionar essa briga? Com tantos exemplos no exterior ninguém no Futebol até o momento se deu conta de descer um degrau e fazer uma visita ao ‘irmão caçula’, o Futsal.

Criada em 1996 pela Confederação Brasileira de Futsal, a Liga Nacional emancipou-se em 2014 tornando-se LNF – Liga Nacional de Futsal e passou a ser gerida 100% por seus 23 franqueados. Um modelo democrático, onde cada franquia possui o mesmo peso de voto, a quatro anos elegem uma diretoria executiva composta por presidente e três vice-presidências (administrativa/financeira, marketing/comunicação e técnica/competição) e o entendimento de que a maior fatia da receita necessariamente precisa ser dividida igualitariamente, em prol da competição. Direitos de Arena, TV e Patrocínios da LNF são todos arrecadados e administrados pela entidade que segue o direcionamento de um planejamento estratégico aprovado pela assembleia geral e todo o lucro da competição é dividido em partes iguais!!

“Ahhh mas não é justo o Flamengo e o Corinthians receberem a mesma coisa do Avaí….”, de fato não é justo, mas essa solução somente pode ser equacionada diante das propriedades variáveis. No futsal o pay per view da modalidade é distribuído proporcionalmente de acordo com número de torcedores assinantes, ou seja, os chamados clubes grandes passam a ter até 30% a mais de receita do que os clubes de menor apelo com o público. Licenciamento de produtos da Liga, ações promocionais com o público das arenas no match day, campanhas de marketing digital e performance com o fã são alguns exemplos de receitas variáveis que certamente irão potencializar ainda mais a capacidade de faturamento destes clubes maiores, porém o ponto de partida e validação do conceito Liga é igualitário e permite com que todas as entidades tenham a oportunidade de conquistar o seu espaço no topo.

A LNF foi base para a criação das ligas estaduais, que hoje atuam no mesmo modelo em 26 estados, colaborando para o fomento da modalidade que possui mais de 14 milhões de praticantes no Brasil. Neste ano foi criada também a LFF – Liga Feminina de Futsal, com chancela da própria CBF e inspirada na masculina LNF. O entendimento é muito simples, receitas fixas são distribuídas igualmente para todos e receitas variáveis premiarão quem realiza o melhor trabalho, traduzindo, o clube grande não deixará de ser grande se renunciar à causa própria para estruturar uma entidade com real igualdade entre seus membros, tão pouco perderá receita.

Como já dizia o grande músico Rogério Flausino: “O amor pode estar do seu lado”.

Foto: João Duarte

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