Nos principais campeonatos europeus, as vendas dos direitos televisivos são centralizadas. Segundo Octavi Anoro, diretor internacional da LaLiga, esse formato permite um crescimento sustentável, beneficiando todos os clubes.
A visão também é compartilhada pelo presidente da Liga Portuguesa, Pedro Proença. Para ele, o modelo resulta em uma menor disparidade entre as receitas dos times.
Anoro destaca que a mudança na venda dos direitos, feita por decreto de governo em 2015, proporcionou a LaLiga ter uma marca sólida.
“Antes [do decreto], tínhamos clubes vendendo seus direitos separadamente, de forma descentralizada. Para crescer e manter uma marca sólida não vejo isso como uma situação desejável”, afirma.
De acordo com Proença, a centralização dos direitos televisivos, em 2021, é um marco histórico para o futebol no país e deve elevar o nível de competitividade dos clubes.
“Com a centralização, vamos diminuir a discrepância entre as receitas dos clubes. Hoje, em Portugal, a disparidade de receita é de 1 para 15 entre os principais times em comparação aos menores. Nas principais ligas europeias, a disparidade é de 1 para 4, nosso objetivo é alcançar esse número.”
“A grande razão é não termos um produto homogêneo. Não temos um modelo, em que o primeiro e o 18º colocado cumprem exatamente as mesmas regras. Não temos um modelo de controle econômico dos clubes que obrigue que as verbas que recebemos sejam investidas nomeadamente em infraestrutura, gramado, iluminação, na qualidade do produto”, analisou Proença.
Para Carlos Del Campo, diretor adjunto da presidência da LaLiga, os pontos de conflitos no formato centralizado estão justamente nas distribuições dos recursos arrecadados para os clubes.
“Basicamente estabelecemos um critério no qual dos 90% do dinheiro captado, 50% são distribuídos em partes iguais. Ainda estabelecemos um limite de discrepância entre os ganhos dos clubes”, diz ele. De Campo ainda explica que essas regras permitiram uma massificação na distribuição de direitos.
No caso português, Proença relata que a Liga não reduzirá nenhuma receita dos grandes clubes, mas pretende diminuir a desigualdade, trazendo um maior equilíbrio na distribuição de receitas.
“Do total arrecadado, 50% será de forma unitária, 25% com base no desempenho esportivo e os outros 25% pela dimensão dos próprios clubes”, diz o executivo.
“Na Europa cerca de 60% dos valores de direitos audiovisuais ficam em quem faz pirataria. Não podemos ter um modelo concentrado e internacionalizar a Liga Portugal, que só poderá ser feito se tivermos o modelo centralizado”, acrescentou.
Ambas ligas defendem que o modelo centralizado pode gerar maior valor global ao campeonato e alcance internacional. Além disso, proporciona uma melhora na produção audiovisual.
Em 2021, o governo português aprovou lei que determina a comercialização centralizada dos direitos de TV da primeira e segunda divisão de Portugal. Há um período de transição até a implantação da regra, em 2028.
Visão sobre o Brasil
O executivo português também analisou o processo de formação de uma liga no Brasil, prevista para começar em 2025, quando termina o atual contrato de direitos de transmissão da Série A do Brasileirão.
Por enquanto, os clubes estão divididos entre a Liga do Futebol Brasileiro (Libra), que tem a adesão de 18 clubes, e a Liga Forte Futebol (LFF), que conta com a participação de 26 equipes.
“Acho que o Brasil está perdendo oportunidades. Na Europa, todos os grandes campeonatos têm ligas à frente. Futebol profissional é uma área muito especializada. No momento em que o Brasil fizer isso [criar a liga], com a capacidade que tem de produzir jogadores, vai ter um salto qualitativo muito grande”, finalizou o dirigente.