Imagine por um momento que você é um jogador de futebol profissional. A maior parte do seu tempo é gasta treinando, jogando e viajando para partidas. Mas o que você faz nas horas vagas? Talvez você goste de tocar um instrumento musical, seja um entusiasta da culinária, tenha um amor pelas artes ou seja apaixonado por tecnologia. Assim como qualquer outra pessoa, os jogadores de futebol têm interesses variados e únicos que fazem parte de suas vidas além do esporte e diversas vezes isso não é lembrado, com um pensamento comum limitado ao atleta ter o direito apenas de ser atleta.
Recentemente tivemos um exemplo de “limites sendo ultrapassados” segundo o entendimento de torcedores mais conservadores, mas que ilustraram muito bem a importância de respeitar a individualidade dos jogadores.
O Gabriel Neves, atleta do São Paulo recebeu críticas e ofensas por parte de torcedores devido à cor de seu cabelo, que havia sido pintado de rosa. Esse incidente destacou como a identidade pessoal de um jogador pode gerar problemas, mesmo quando não está relacionada ao futebol propriamente dito.
Esse caso mostra como o futebol brasileiro hoje se encontra num momento em que temos ânimos aflorados, com cobranças sendo feitas com grande intensidade. No exterior é muito natural você encontrar atletas, não só do futebol, mas de vários esportes distintos em eventos de moda, surfando, em partidas da NBA, NFL, ou mesmo se vestindo de formas muito diferentes do padrão.
Já no Brasil, temos um cenário em que os jogadores se sentem cada vez menos confortáveis em expressar suas preferências e necessitando seguir uma “cartilha do aceitável”.
E o que isso tem a ver com o marketing?
Assim como o senso comum de torcedores, no marketing (que também é composto por muitos fãs do esporte) muitas vezes se enxerga o jogador de futebol dentro de uma caixa, como simples embaixador da marca, focando apenas em como podem ser utilizados para promover produtos e serviços.
É comum vermos jogadores de futebol sendo usados como “garotos-propaganda” em campanhas publicitárias, onde suas imagens são associadas a produtos que podem nem sempre ter relação com seus interesses pessoais.
Conexões Autênticas
Aqui está a questão: E se as marcas levassem em consideração os gostos e interesses dos jogadores de futebol ao criar suas campanhas? Em vez de simplesmente tentarem se aproveitar da popularidade daquele rosto, através de escopos de x combos de stories e y posts no feed, trazendo um texto para ser interpretado, poderiam criar conexões autênticas entre o atleta e o produto, mapear um atleta que realmente tem conexão com os benefícios da marca.
Quando os interesses pessoais do jogador são respeitados e incorporados à estratégia de marketing, encontra-se a naturalidade ao tratar sobre um tema e o resultado é uma publicidade muito mais autêntica.
Talvez muito dessa dificuldade venha dos próprios atletas e suas assessorias, que em muitos casos estão se adaptando à esse novo momento do mercado em que o atleta também se torna um produto, mas entendo que é válida uma provocação para que as agências e empresas de marketing – já habituadas à esse mapeamento de perfis específicos – liderem essa mudança.
Os jogadores de futebol são muito mais do que apenas atletas. Eles tem interesses variados, visões de mundo distintas e hobbies. Quando as marcas reconhecem e respeitam essas características individuais, podem criar parcerias publicitárias mais autênticas e significativas, além de desenvolver projetos de longo prazo. Não se trata apenas de usar a imagem de um jogador, mas de construir uma conexão genuína que ressoa com os fãs e consumidores. Não existe uma receita do sucesso, mas com certeza, com um atleta interessado e familiarizado com o produto, o resultado sempre é maior.
