Coluna

Especial Olímpico: A relação entre o Esporte com à educação nas potências Olímpicas

Como os países investem na relação Esporte & Educação para alcançar o sucesso olímpico e formar atletas estudados

Foto: Ivan Ballester

26 de julho de 2024

7 minutos de Leitura

Ivan Ballesteros
Ivan Ballesteros
CEO e fundador da Esporte Educa, primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país

Estamos em ano olímpico e uma das perguntas que sempre surge é: qual é a relação entre estudo e esporte para os atletas de diferentes países? Eles estudam? Dedicam-se exclusivamente ao esporte? Conseguem equilibrar ambos? Na última olimpíada, a minha empresa Esporte Educa realizou um levantamento mundial para explorar a relação entre esporte e educação, que acabou viralizando no LinkedIn. 

Decidimos apresentar este estudo com novos dados em forma de um especial olímpico aqui no MKT Esportivo. Neste primeiro artigo traremos um panorama geral e, nos próximos, ao longo das Olimpíadas, apresentaremos detalhes mais robustos sobre cada nação, incluindo países que não estão citados aqui. 

No cenário global, a integração entre esporte e estudo é realizada de maneiras distintas. Alguns países se destacam positivamente, como os Estados Unidos, enquanto outros, como a China, apresentam desafios nesse aspecto. Ao compararmos a realidade brasileira com outras potências olímpicas, percebemos que ainda estamos dando os primeiros passos, com exceção da China que apesar do seu sucesso olímpico, aplica um modelo desconexo ao estudo.

Estados Unidos

Os Estados Unidos são o maior campeão olímpico do século, ocupando o primeiro lugar também na edição de Tóquio. A maioria dos atletas que representam o país frequentam ou planejam matricular-se em faculdades. De acordo com a NCAA, cerca de 75% dos 626 membros da equipe americana competiram em faculdades, nos níveis da Divisão I, II ou III.

China

Na China, a ideologia separa educação e treinamento esportivo como dois caminhos distintos. Para se tornar um campeão mundial, não é possível seguir ambos simultaneamente. Esse modelo resultou em mais de 400 medalhas apenas neste século. Cerca de 95% dos medalhistas de ouro chineses frequentaram uma das 2.183 escolas de educação física do país. No entanto, o número de escolas diminuiu de 3.687 em 1.990 devido à relutância dos pais em submeter seus filhos a um treinamento rigoroso que negligencia a educação, levando ao fechamento de algumas instituições por falta de alunos.

Rússia

A Rússia mantém uma forte cultura esportiva, herdada da antiga União Soviética, que serviu de modelo para o sistema chinês. Após a queda da URSS, o sistema esportivo foi reformulado. Atualmente, o Russian Student Sports Union (RSSU), estabelecido por iniciativa do Ministério da Educação da Rússia, do Comitê Estadual de Esportes da Rússia e do Comitê Olímpico Russo, coordena as atividades de mais de 600 instituições para o desenvolvimento do esporte estudantil.

Reino Unido
A relação entre esporte e educação é promovida por meio de programas e instituições dedicadas a desenvolver talentos esportivos, enquanto asseguram uma educação de qualidade. O case da Loughborough University é um exemplo notável, sendo reconhecida como “University of the Year for Sport” pelo The Times. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, atletas vinculados à Loughborough conquistaram um total de 35 medalhas, incluindo 9 de ouro, 12 de prata e 14 de bronze. Essa abordagem não apenas cria campeões, mas também prepara atletas para carreiras após o esporte, mostrando que é possível alcançar o sucesso acadêmico e esportivo simultaneamente.

Alemanha

Nos anos 2000, surgiram as Eliteschule des Sports e Eliteschulen des Fußballs, escolas especializadas no desenvolvimento do talento esportivo dos alunos, oferecendo simultaneamente um forte programa acadêmico. Mais de 11.500 jovens estão atualmente em 43 dessas escolas, vinculadas aos centros de treinamento Deutscher Olympischer Sportbund (DOSB) e DFB. Dos 392 membros da equipe olímpica alemã em 2012, 104 eram alunos dessas escolas, representando 34,9% dos atletas que ganharam medalhas em Londres.

Em 2022, representando o Brasil na Alemanha através da Esporte Educa, fomos reconhecidos como a maior inovação no mercado de esporte brasileiro. Eu tive a oportunidade de ver de perto as Eliteschulen des Sports, e comprovar a excelência acadêmica com treinamento esportivo de alta qualidade.

Japão 

A integração entre esporte e educação é exemplar, começando desde os clubes escolares (bukatsu) até o ensino superior, com um sistema esportivo universitário robusto similar ao da NCAA nos EUA. Universidades como a de Tsukuba são renomadas por formar atletas de elite, refletindo-se no sucesso olímpico do país. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, o Japão conquistou um número recorde de medalhas, destacando-se em esportes como judô e ginástica. Essa forte integração ensina valores como disciplina e trabalho em equipe, demonstrando que é possível cultivar campeões olímpicos sem sacrificar a educação. A educação japonesa é tão amplificada no esporte que até mesmo no futebol, uma modalidade que tem fama mundial de não conciliar com os estudos, formou diversos jogadores para a seleção nacional que se destacam dentro e fora do esporte por inteligência tática estudantil.

Brasil

No Brasil, apesar do trabalho notável do Comitê Olímpico do Brasil que nos colocou como a maior nação da América do Sul e a terceira maior potência das Américas (atrás apenas dos EUA e Canadá), ainda enfrentamos dificuldades na conciliação entre estudo e esporte. Muitos atletas precisam escolher entre um caminho ou outro, com poucas opções tanto no esporte quanto na educação. Apenas 1% dos jovens têm acesso a oportunidades esportivas, enquanto 30 milhões de jovens não têm acesso a uma educação de qualidade. Vale mencionar que, apesar de eu ver potencial para que o COB e suas confederações, ou até mesmo a CBF, façam mais pela educação dos nossos atletas, enfrentamos um desafio estrutural educacional gigantesco que não é causado pelas entidades esportivas, e que complica ainda mais a tarefa de integrá-las de forma eficaz.

Se você tem interesse em saber mais sobre esses dados no Brasil, te convido a ler algumas colunas minhas aqui no portal:

Nesse contexto surgiu a Esporte Educa, com a missão de unir esporte e educação no Brasil, oferecendo oportunidades integradas para o desenvolvimento de jovens talentos e com o propósito de criar uma nova geração de atletas que estudam.

Ao analisarmos a relação entre esporte e estudo nas principais potências olímpicas do mundo, fica claro que cada nação desenvolveu um modelo próprio para integrar essas duas áreas fundamentais. Estados Unidos, China, Rússia, Alemanha e Brasil oferecem exemplos únicos de como a educação e o treinamento esportivo podem se complementar (ou não) para formar atletas de elite e cidadãos preparados.

No entanto, a nossa jornada olímpica não termina aqui. Na próxima coluna, iniciaremos um estudo detalhado de cada uma dessas nações, começando com duas das maiores potências olímpicas: Estados Unidos e China. Vamos descobrir os segredos por trás dos seus modelos de sucesso, as diferenças fundamentais em suas abordagens e os impactos dessas estratégias nos resultados olímpicos e na formação dos seus atletas.

Acompanhe-nos nesta jornada única para entender como os EUA e a China se destacam no cenário olímpico mundial e o que podemos aprender com eles. Não perca e até a próxima coluna!

Compartilhe
ver modal

Assine a newsletter do MKT