Coluna

A arte de “bypassar”

Já diria Jorge Ben Jor, "se o malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem"

A arte de “bypassar”

28 de agosto de 2024

4 minutos de Leitura

Fábio Wolff
Fábio Wolff
Fábio Wolff é sócio-diretor da Wolff Sports, e professor em cursos de MBA em Gestão e Marketing Esportivo na Trevisan Escola de Negócios

“Se o malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem” – Jorge Ben Jor.

Tenho 28 anos de mercado, a agência que fundei é uma das referências, leciono há 21 anos, desde que cheguei do MBA Industria do Futebol em Liverpool, e há 14 anos no MBA de Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan.

Fiz essa breve introdução não para me vangloriar, esnobar, ou qualquer coisa do tipo. Os que me conhecem sabem que tenho orgulho de tudo o que conquistei à base de muito suor e foco. Simplesmente amo o que faço.

Durante a minha carreira nunca duvidei um único dia se trabalhava no que amo. Enfim, ralei muito e continuo ralando, errando, acertando, sempre aprendendo. Me sinto hoje mais maduro, a bagagem faz com que eu tenha insights, feelings, estratégias para trazer para a mesa quem deseja vender com quem deseja comprar.

Esse não é um trabalho mera e simplesmente de intermediação, não senhor, mas sim de consultoria, de inteligência estratégica. Fico feliz de ter o reconhecimento de clientes que são, antes de tudo, grandes parceiros e que estão há mais de uma década conosco, na Wolff Sports.

Como em todo o mercado, existem os bons e maus clientes, os bons e maus parceiros. Minha esposa, que é companheira e conselheira, sempre me diz “Fabio, olhe o lado cheio do copo”. Sou muito grato a ela pelo meu amadurecimento como ser humano e como profissional, mas peço a ela a licença para tratar, nesse artigo, pelo viés do lado vazio do copo.

O crescimento da agência obviamente trouxe mais negócios, mas ao mesmo tempo algumas situações desagradáveis para gerenciar. Imaginem só criar ideias, unir as pontas, ativar e depois ser a parte descartável do negócio?! Diferentemente do que ocorre em muitos países, nos quais o trabalho intelectual é valorizado.

Uma das situações que mais revoltou a Wolff Sports foi a bypassada por um cliente na renovação de um patrocínio com um renomado clube de futebol brasileiro. O mesmo esforço que tivemos para a realização do negócio foi dedicado durante mais de sete meses para conseguir essa renovação.

No entanto, após um trabalho intenso de dedicação e estratégia, deparamos com a notícia na imprensa de que o negócio fora fechado diretamente entre a empresa e o clube. Como se tratava de futebol, o termo a ser usado é, literalmente, nos jogaram para escanteio.

Tentamos todas as formas para obter uma solução amigável junto ao cliente. Sem retorno positivo, fomos obrigados muito a contragosto a recorrer à única solução possível, ao Poder Judiciário; após quatro anos vencemos a ação, em batalha jurídica intensa, até necessário o deslocamento para a audiência judicial, que se realizou em outro estado.

Infelizmente não foi o único cliente que agiu desta maneira.

Muitos questionaram se judicializar a questão seria um ponto positivo para a nossa imagem perante o mercado. Entendo que, sim, o esforço valeu. Afinal agregamos no sentido de evitar que outras empresas e clubes atuem desta maneira. Uma pequena contribuição para educar o mercado.

Quantas vezes nós do marketing esportivo temos o mérito de gerar um negócio entre duas partes que nunca teria acontecido não fosse pelo esforço empreendido? Nós é que estudamos, que respiramos o mercado, possuímos a expertise e as oportunidades e, repentinamente, quando as partes estão próximas à assinatura do contrato, de forma inadmissível, nos descartam.  

Há uma desunião entre as agências de marketing esportivo e falta de representatividade da classe. Seja meu concorrente ou não, gostando ou não de mim ou de nossa equipe, acho que todos deveríamos ter uma voz e união para combater esse tipo de situação e proporcionar a benéfica troca de experiências.

Enfim, nesses últimos tempos fui obrigado a vivenciar situações desagradáveis, mas o sofrimento acaba nos tornando mais fortes, resilientes e experientes.

Tenho esperança de que haja uma mudança em relação aos valores éticos em nosso país e surja uma nova realidade de mercado. E que seja logo.

A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras” – Winston Churchill

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