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Além das Medalhas: o sacrifício e a realidade dos atletas

Esportistas carregam o peso de saber que suas carreiras têm prazo de validade muito mais curto do que as profissões tradicionais

Além das Medalhas: o sacrifício e a realidade dos atletas
Foto: Thibault Camus/AP

12 de agosto de 2024

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Grupo focado em investimentos, inteligência e estratégia para esporte e entretenimento.

Rafael Niro – Sócio e CMO da Outfield

A cada 4 anos temos a oportunidade de viver intensamente o esporte através dos Jogos Olímpicos. Modalidades que acompanhamos em nosso dia a dia por toda uma vida e outras que às vezes esquecemos ou nem sabemos que existem. Mas, mais do que isso, temos a chance de ouvir depoimentos emocionantes de atletas, que resumem uma vida marcada por muita pressão.

“Foi difícil esta prova? Não, difícil foi desde o dia que fui marchar na rua pela primeira vez e fui xingado e falei, eu to pronto pai, eu quero ser marchador, …tem que ter muita coragem para viver de marcha atlética”, disse Caio Bonfim, medalha de prata em Paris.

O multicampeão Isaquias Queiroz comentou após conquistar mais uma medalha Olímpica “O ano passado foi diferente e especial, quando eu percebi que não é ser campeão mundial e super atleta. E, sim, ser um humano com problemas físicos e psicológicos. Tive que me remontar. Tive que correr muito para ficar em forma”.

Pedro Gonçalves também desabafou após ser eliminado no caiaque cross. Relatou que muitos não consideram esporte um trabalho, e reforçou que trabalha muito mais do que em outras profissões. Trabalha 24h por dia, pois o que ele come, como ele dorme, a abdicação de eventos sociais, também fazem parte da sua profissão.

São apenas alguns exemplos da realidade vivida por milhares de pessoas que decidem viver do esporte e que de forma midiática tem sido muito bem retratada em diversas séries esportivas, a mais recente sobre a ginasta fenômeno Simone Biles, produzida pela Religion of Sports, uma das investidas da Outfield Inc.

Pedro Gonçalves

Inseridos no esporte desde muito cedo, esses atletas passam a confundir seus papéis no esporte com o que são como pessoas. Em muitas vezes, o esportista não se sente capaz de fazer outra coisa que possa trazer o mesmo reconhecimento e sucesso profissional e pessoal. Renunciam a outros importantes fatores em sua formação como indivíduo para dar foco total à performance esportiva.

São vistos por seus familiares, amigos e comunidade como exemplo de força, dedicação, belos corpos e acreditam que se por algum motivo falharem, perderão este status de super-heróis e não terão outros atributos que gerem orgulho em todos.

Atletas carregam o peso de saber que suas carreiras têm prazo de validade muito mais curto do que as profissões tradicionais e de que grandes ídolos têm surgido cada vez mais cedo, aumentando ainda mais a necessidade de atingir seu ápice de performance quando as vezes ainda se tem dúvidas de quem são fora do esporte.

Milhares de horas de treinamento, suor, dor, choro, para que tudo saia bem em alguns minutos de disputas, por exemplo. Uma montanha russa de emoções diárias, um altíssimo nível de cobrança pessoal, para mostrar a si e a todos que têm valor e que o esporte é sim uma profissão digna, sofrida e mal remunerada na grande maioria das modalidades.

Desafios complexos que vão além da competição e das vitórias. A pressão psicológica, as abdicações pessoais, o tempo curto de carreira, a falta de estrutura e o reconhecimento financeiro limitado são questões que necessitam de maior atenção e suporte.

A compreensão e o apoio adequados por parte das instituições esportivas, da sociedade e dos patrocinadores são fundamentais para mitigar essas dificuldades e garantir que os atletas possam alcançar seu potencial máximo enquanto mantêm um equilíbrio saudável em suas vidas pessoais e profissionais. Reconhecer essas questões é o primeiro passo para promover um ambiente mais justo e sustentável para todos os atletas.

Nosso trabalho diário é mudar algumas regras para transformar o jogo. Fazer do esporte brasileiro, algo realmente elegível para investimentos e que toda a cadeia seja beneficiada para que atletas possam dividir este peso que carregam nas costas com mais gente e que tuas estrelas possam brilhar mais forte e por mais tempo.

Rafael Niro é Socio e CMO da Outfield. Formado em Publicidade e Propaganda, e especializado em marketing digital, customer experience e fan engagement. Possui mais de 15 anos de experiência no mercado esportivo, bens de consumo e instituições esportivas. Foi head de marketing e comunicação do Red Bull Bragantino e Trek Bicycles para Brasil e Uruguai.

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