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Especial Olímpico: EUA e China – A relação entre o Esporte e a Educação nas potências Olímpicas

Modelos de esportes universitários e academias especializadas: uma comparação entre EUA e China

Especial Olímpico: EUA e China – A relação entre o Esporte e a Educação nas potências Olímpicas

01 de agosto de 2024

7 minutos de Leitura

Ivan Ballesteros
Ivan Ballesteros
CEO e fundador da Esporte Educa, primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país

No primeiro especial, exploramos como diferentes nações integram esporte e educação para formar campeões olímpicos. Agora nos próximos episódios, vamos mergulhar em uma análise detalhada de cada nação, no episódio dessa semana vamos falar das duas maiores potências olímpicas: Estados Unidos e China.

Descobrir os segredos por trás de seus modelos de sucesso, as diferenças fundamentais em suas abordagens, e como essas estratégias impactam os resultados olímpicos e a formação de atletas e acadêmicos. A relação entre esporte e educação é um fator crucial para o desenvolvimento de atletas de elite em qualquer país.

Nos Jogos Olímpicos essa integração pode ser observada nas estratégias adotadas por potências esportivas. Enquanto os EUA se destacam pela combinação de excelência acadêmica e esportiva, a China adota uma abordagem mais segmentada. Este artigo examina as diferenças e similaridades nos sistemas dos dois países, explorando como cada um integra (ou não) a educação com o esporte para alcançar sucesso olímpico.

Estados Unidos: Um Modelo de Integração

Os Estados Unidos são o maior campeão olímpico do século, ocupando o primeiro lugar também na edição de Tóquio 2020. A maioria dos atletas americanos frequenta ou planeja matricular-se em faculdades. De acordo com a NCAA, cerca de 75% dos 626 membros da equipe americana competiram em faculdades nos níveis da Divisão I, II ou III.

O sistema esportivo universitário dos EUA é amplamente reconhecido por sua infraestrutura e suporte. As universidades americanas investem aproximadamente 18 bilhões de dólares anualmente em programas esportivos. Esse investimento inclui bolsas de estudo, instalações de treinamento de ponta e equipes técnicas altamente qualificadas. As bolsas de estudo atléticas são uma ferramenta crucial para atrair e desenvolver talentos esportivos, permitindo que os atletas conciliem seus objetivos acadêmicos e esportivos sem a preocupação financeira.

Além de formarem atletas americanos de excelência, as universidades dos EUA também atraem talentos do mundo todo, oferecendo a oportunidade de estudar no melhor ensino do mundo e competir em alto nível. Exemplos recentes incluem a atleta de basquete feminino Kamila Cardoso e a atleta de vôlei Julia Bergmann. 

Kamila Cardoso, brasileira, destacou-se no basquete universitário americano, sendo uma peça fundamental na equipe da Universidade da Carolina do Sul. Recentemente foi premiada como MVP da NCAA 2024 e foi a terceira escolha no Draft da WNBA, sendo selecionada pelo Chicago Sky​​. 

Julia Bergmann em sua formatura na Universidade Georgia Tech — Foto: Reprodução

Julia Bergmann, também brasileira e que provavelmente jogará as olimpíadas de Paris 2024, brilhou no vôlei universitário pela Georgia Tech. Ela foi a primeira atleta a ser convocada para a seleção principal do Brasil no vôlei feminino enquanto ainda jogava no sistema universitário americano. Esses casos mostram um caminho alternativo para atletas brasileiros que valorizam a educação e ainda assim querem construir uma carreira profissional de sucesso.

Além disso, existe uma robusta rede de apoio ao atleta-estudante, que inclui programas de tutoria, aconselhamento acadêmico e suporte psicológico. Esses programas ajudam a preparar os atletas para carreiras de sucesso, seja no esporte profissional ou em outras áreas. A combinação de suporte financeiro e acadêmico garante que os atletas mantenham um bom desempenho tanto em competições quanto em suas atividades acadêmicas, criando um ambiente onde o esporte e a educação caminham juntos.

China: Treinamento Intenso e Educação Segmentada

Na China a ideologia separa educação e treinamento esportivo como dois caminhos distintos. Para se tornar um campeão mundial não é possível seguir ambos simultaneamente. Esse modelo resultou em mais de 400 medalhas apenas neste século. Cerca de 95% dos medalhistas de ouro chineses frequentaram uma das 2.183 escolas de educação física do país.

Os atletas chineses são frequentemente identificados em idade precoce por meio de programas de scouting e, em seguida, são matriculados em escolas especializadas em educação física. Essas escolas oferecem treinamento intensivo, muitas vezes em detrimento de uma educação acadêmica tradicional. Em 1990 havia 3.687 dessas escolas, mas esse número diminuiu para 2.183 devido à crescente relutância dos pais em submeter seus filhos a regimes de treinamento extremamente rigorosos, resultando no fechamento de várias instituições por falta de alunos.

Diante da relutância dos pais em matricular seus filhos em escolas que não oferecem educação tradicional e das críticas do mundo quanto aos direitos humanos e violações das condições das crianças, mudanças recentes começaram a acontecer. Apesar de a China ter dominado as Olimpíadas de 2008 com 51 medalhas de ouro, a ênfase crescente na educação acadêmica está levando os pais a priorizar estudos tradicionais em detrimento do treinamento esportivo rigoroso. Isso resultou no fechamento de algumas escolas esportivas e na adaptação de outras que, agora, permitem mais tempo para atividades acadêmicas e reestruturam suas rotinas de treinamento para atrair novos alunos. 

As meninas fazem ginástica em frente à bandeira nacional. Foto: CFP

Em 2010, o governo chinês introduziu políticas para melhorar os padrões de ensino nas escolas esportivas e apoiar atletas aposentados. Desde 2012, escolas como a Shanghai Sports School exigem aprovação em exames acadêmicos para novos atletas, refletindo uma mudança para uma educação mais abrangente. Embora o treinamento intensivo ainda esteja presente, muitas escolas ajustaram suas práticas para equilibrar o treinamento esportivo com a educação acadêmica, abordando as preocupações sobre a falta de educação formal adequada durante a formação esportiva dos atletas.

Além disso, a China investe pesadamente em infraestrutura esportiva e programas de desenvolvimento de atletas. O governo chinês destina bilhões de yuans para construir e manter instalações esportivas de classe mundial e financiar programas de treinamento para jovens atletas. Em 2019, o governo chinês destinou aproximadamente 13 bilhões de yuans (cerca de 2 bilhões de dólares) apenas para o desenvolvimento esportivo.

Entretanto, a falta de integração entre esporte e educação leva a desafios significativos para os atletas chineses após suas carreiras esportivas. Muitos atletas enfrentam dificuldades para se reintegrar ao mercado de trabalho devido à falta de qualificações acadêmicas e habilidades profissionais. A especialização precoce e a ênfase quase exclusiva no treinamento esportivo podem limitar as oportunidades de carreira para esses indivíduos fora do esporte.

Ao mergulharmos nas estratégias e modelos dos Estados Unidos e da China, vimos como essas nações têm moldado suas políticas esportivas e educacionais para alcançar o sucesso olímpico. A abordagem centrada em recursos e infraestrutura dos EUA, contrastando com o rigor e disciplina da China, oferece lições valiosas para qualquer país que aspire a se destacar no cenário esportivo mundial.

Mas a competição não para por aqui. No próximo artigo, vamos inverter a ordem da pirâmide e focar em dois países que protagonizaram momentos históricos no esporte: Brasil e Alemanha. Vamos reeditar a intensa rivalidade da final Olímpica de futebol de 2016 no Maracanã ou relembrar os fatídicos 7×1 da Copa do Mundo de 2014. Desta vez, a disputa será nos campos da educação e do esporte.

Brasil e Alemanha têm muito a nos ensinar com seus modelos distintos. Como se comparam os programas de formação de atletas e a integração com o sistema educacional? Quais são os pontos fortes e os desafios que cada nação enfrenta?

Prepare-se para uma análise detalhada e acirrada desta rivalidade, que vai além dos campos de futebol e atinge o coração do desenvolvimento esportivo e educacional. Não perca!

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