Coluna

Especial Olímpico: Rússia x Grã Bretanha – A Relação entre o Esporte e a Educação nas Potências Olímpicas

Escolas esportivas rigorosas na Rússia e suporte governamental com programas estudantis na Grã-Bretanha

Especial Olímpico: Rússia x Grã Bretanha – A Relação entre o Esporte e a Educação nas Potências Olímpicas

07 de agosto de 2024

9 minutos de Leitura

Ivan Ballesteros
Ivan Ballesteros
CEO e fundador da Esporte Educa, primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país

Nos episódios anteriores, exploramos como diferentes nações integram esporte e educação para formar campeões olímpicos. No primeiro episódio, apresentamos uma visão geral das potências olímpicas, enquanto no segundo episódio analisamos detalhadamente as abordagens dos Estados Unidos e da China. No terceiro, falamos sobre Brasil e Alemanha, que juntos somam 297 medalhas. Agora, vamos examinar a relação entre esporte e educação na Rússia e na Grã-Bretanha.

A Rússia, com sua herança soviética, investe fortemente em infraestrutura e programas educacionais, mas enfrenta críticas por escândalo de doping e a pressão por resultados imediatos. A Grã-Bretanha, com programas como o UK Sport’s World Class Programme, equilibra sucesso esportivo e educação, preparando atletas para a vida pós-carreira esportiva. Vamos analisar como cada país equilibra a relação do estudo com o esporte.

Rússia

A Rússia mantém uma forte cultura esportiva herdada da antiga União Soviética e que serviu de modelo para o sistema chinês até recentemente. Após a queda da URSS, o sistema esportivo foi reformulado. Atualmente, o Russian Student Sports Union (RSSU), estabelecido por iniciativa do Ministério da Educação da Rússia, do Comitê Estadual de Esportes da Rússia e do Comitê Olímpico Russo, coordena as atividades de mais de 600 instituições para o desenvolvimento do esporte estudantil.

O sistema russo é amplamente apoiado pelo governo, que reconhece a importância do esporte na formação de uma identidade nacional forte e na promoção da saúde pública. As escolas e universidades russas frequentemente possuem programas de treinamento esportivo que permitem aos estudantes-atletas equilibrar seus estudos acadêmicos com a prática esportiva de alto nível.

Além disso, a Rússia investe significativamente em infraestrutura esportiva. Os investimentos incluem a construção e manutenção de instalações esportivas de última geração e o financiamento de programas de desenvolvimento de atletas. Em 2018, por exemplo, o governo russo alocou cerca de 30 bilhões de rublos (aproximadamente 400 milhões de dólares) para a promoção do esporte em todos os níveis, desde a base até o alto rendimento. Além de todo o investimento em novas infraestruturas esportivas, foram herdados muitos locais implantados pela antiga URSS que foram reformados e reinvestidos, valorizando a cultura esportiva existente.

A abordagem integrada do esporte e da educação na Rússia também é facilitada por organizações como o RSSU, que promove competições esportivas entre estudantes, além de fornecer suporte financeiro e logístico para o desenvolvimento do esporte estudantil. Essa rede de suporte ajuda a identificar e nutrir talentos esportivos desde cedo, garantindo que os atletas tenham acesso a treinamento de qualidade e oportunidades de competição.

Além disso, o sistema educacional esportivo frequentemente é alvo de críticas por ser excessivamente rígido e focado em resultados imediatos, muitas vezes negligenciando o bem-estar a longo prazo dos atletas. Embora o desenvolvimento educacional caminhe lado a lado com o esportivo, isso não garante a proteção mental dos jovens atletas. A pressão excessiva por medalhas em idades precoces pode levar a sérios problemas de saúde mental.

Apesar dos sucessos esportivos educacionais, o esporte Russo foi descredibilizado com o escândalo de doping patrocinado pelo Estado, revelado em 2015, que manchou a reputação do esporte russo internacionalmente. A Agência Mundial Antidoping (WADA) descobriu que o governo russo orquestrou um esquema para manipular resultados de testes de doping, afetando inúmeros atletas e competições, incluindo os Jogos Olímpicos de Sochi em 2014​.

Grã-Bretanha

Primeiro, uma curiosidade: por que falamos da Grã-Bretanha e não apenas da Inglaterra? Desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos em 1896, em Atenas, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte competem juntos, pois, dessa forma, são mais fortes do que isoladamente. Esta tradição se mantém até hoje.

A relação entre esporte e educação na Grã-Bretanha é fortemente promovida por meio de programas e instituições dedicadas a desenvolver talentos esportivos enquanto asseguram uma educação de qualidade. As escolas britânicas oferecem uma ampla gama de atividades esportivas extracurriculares, e muitas delas possuem instalações esportivas de alta qualidade. Além disso, as universidades britânicas, como a Loughborough University, são conhecidas por seu foco em esportes e por formar atletas de elite. A Loughborough University, em particular, é um centro de excelência esportiva, fornecendo suporte acadêmico e esportivo para os atletas.

Nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, o Reino Unido teve um desempenho excepcional, com 65 medalhas conquistadas. Dos 12 ouros, 3 foram ganhados por atletas da Loughborough University, enquanto os estudantes e ex-alunos dessa universidade ganharam um total de 13 medalhas, incluindo ouro, prata e bronze. Em Tóquio 2020, a Grã-Bretanha manteve o alto nível com 64 medalhas, das quais 15 foram conquistadas por atletas da Loughborough University, incluindo 5 medalhas de ouro. Essa abordagem não apenas cria campeões, mas também prepara atletas para carreiras após o esporte, mostrando que é possível alcançar o sucesso acadêmico e esportivo simultaneamente.

Além das universidades, o sistema britânico de esporte e educação é apoiado por uma infraestrutura robusta e por programas como o UK Sport, que financia atletas de elite e desenvolve talentos emergentes. O sucesso contínuo da Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos é um testemunho da eficácia de seu sistema integrado de esporte e educação.

O UK Sport’s World Class Programme é um exemplo proeminente de como o país investe no esporte. Este programa identifica e apoia atletas com potencial para ganhar medalhas em competições internacionais. Além disso, eventos como os British Championships oferecem uma plataforma para que os atletas mostrem suas habilidades e ganhem experiência competitiva.

Esses programas não apenas focam no sucesso esportivo imediato, mas também no desenvolvimento a longo prazo dos atletas, fornecendo suporte acadêmico e esportivo. Isso garante que os jovens possam equilibrar suas aspirações esportivas com a educação, preparando-os para carreiras bem-sucedidas dentro e fora do esporte.

Embora existam mais etapas e organizações envolvidas, a imagem ilustra de forma resumida o processo. No Reino Unido, o desenvolvimento de atletas é um processo bem estruturado e suportado por diversas instituições e programas. 

A jornada começa geralmente nas escolas, onde o esporte é parte essencial do currículo, incentivado por programas como o School Games que promovem competições regionais e nacionais. Jovens que demonstram talento são direcionados para clubes locais e regionais, onde recebem treinamento especializado e participam de competições regulares. Instituições como o English Institute of Sport (EIS) oferecem suporte técnico e científico crucial para o progresso desses atletas. 

Aqueles que se destacam podem ingressar em academias ou centros de excelência de clubes renomados, como Manchester United e Arsenal, ou outros centros específicos para diferentes modalidades esportivas. 

A combinação de educação e esporte é altamente valorizada, com muitos atletas frequentando colégios e universidades que oferecem programas de esportes de elite, como a Loughborough University, conhecida por sua excelência tanto acadêmica quanto esportiva. Competir em eventos nacionais, como o British Championships, e internacionais, é vital para o desenvolvimento dos atletas, oferecendo exposição e oportunidades para serem notados por treinadores e patrocinadores. Programas como o UK Sport’s World Class Programme identificam e apoiam atletas com potencial olímpico e paralímpico, fornecendo financiamento, treinamento especializado e acesso a instalações de ponta. Ao atingir o nível profissional, muitos atletas britânicos se tornam parte de equipes e organizações esportivas de elite, com contratos, participação em ligas profissionais e patrocínios.

A integração entre esporte e educação na Rússia e na Grã-Bretanha mostra abordagens distintas, mas eficazes. A Rússia se destaca pelo forte investimento governamental e infraestrutura robusta, coordenando atividades esportivas em mais de 600 instituições através do Russian Student Sports Union (RSSU). No entanto, enfrenta críticas por práticas de doping e pressão por resultados imediatos, que podem impactar negativamente a saúde mental dos atletas. Já a Grã-Bretanha combina esporte e educação com programas como o UK Sport’s World Class Programme e eventos como os British Championships, garantindo suporte acadêmico e esportivo para os atletas. Apesar das críticas sobre desigualdade de acesso e pressão competitiva, a Grã-Bretanha mantém um sistema equilibrado e bem-sucedido. Ambas as nações demonstram que investimentos estruturados podem levar a resultados impressionantes no desempenho atlético e no bem-estar geral.

Para encerrar nosso especial olímpico, mergulharemos no fascinante caso do Japão. Exploraremos não apenas o sucesso japonês nos esportes olímpicos, mas também no futebol, uma modalidade mundialmente conhecida por ter atletas com menor qualificação educacional. No entanto, o Japão se destaca como um exemplo notável de como a educação é fundamental em todas as modalidades esportivas. Veremos como essa integração contribui para o desenvolvimento integral dos atletas, resultando em melhores esportistas e cidadãos. Não perca esta análise reveladora sobre como a educação molda campeões dentro e fora do campo no Japão.

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