Coluna

Do Field Goal ao Touchdown: no Brasil, a NFL só vencerá com as próximas gerações

Viabilizar a prática esportiva para a nova geração de fãs NFL no Brasil será fundamental para o crescimento da modalidade em longo prazo

Do Field Goal ao Touchdown: no Brasil, a NFL só vencerá com as próximas gerações
Foto: Davi Ferreira

11 de setembro de 2024

6 minutos de Leitura

Ivan Ballesteros
Ivan Ballesteros
CEO e fundador da Esporte Educa, primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país

Nos últimos meses, muito se tem falado sobre o crescimento da NFL no Brasil e as enormes oportunidades comerciais que ela traz. A chegada de um jogo regular ao nosso país marca um momento importante, destacando a paixão crescente dos fãs pela liga.

No entanto, poucos estão discutindo uma questão fundamental para o futuro da NFL no Brasil: como transformar essa paixão em prática esportiva entre os jovens brasileiros, particularmente os filhos dos fãs atuais e as futuras gerações que, nos próximos anos, estarão à frente da economia nacional.

A importância de focar nas crianças e no Esporte de Base

Viabilizar a prática esportiva para as crianças vai além de formar atletas. Trata-se de criar um elo emocional profundo que transforma torcedores casuais em verdadeiros fãs e consumidores ao longo da vida. Recentemente, estive nos Estados Unidos, mais especificamente na Califórnia, no Vale do Silício, em uma dupla imersão pela Esporte Educa. O primeiro objetivo foi aprender novas tecnologias que possam ser aplicadas em minha empresa, e o segundo foi mergulhar no ambiente do esporte escolar americano, buscando novas ideias e inspirações. 

Durante essa viagem, tive a oportunidade de assistir a uma partida universitária entre os Cal Poly Mustangs e o Stanford Cardinal, e ficou claro como o esporte universitário e escolar nos EUA desempenha um papel fundamental, tanto no desenvolvimento de atletas quanto na formação de torcedores fieis ao longo da vida”.

Esse ciclo, que começa desde cedo, permite que as crianças se envolvam ativamente com o futebol americano, criando um vínculo emocional duradouro com a modalidade.

Mas a importância desse movimento vai além das crianças. Ela também envolve os pais. Imagine o quão valioso é para um pai ver seu filho acompanhá-lo na paixão pelo esporte, seja em um estádio ou na frente da TV. Esses momentos não são apenas sobre o jogo, mas sobre criar memórias. Meu pai, por exemplo, conta histórias do meu avô até hoje, de quando eles iam juntos assistir aos jogos de futebol. Isso criou um elo importante entre os dois e foi a origem do amor que ele tem pelo seu clube até hoje. Imagine o poder desse tipo de experiência para a NFL.

Para as marcas e os outros atores que trabalham com futebol americano, essa conexão intergeracional pode ser uma ferramenta poderosa de fidelização e engajamento. Aqui no Brasil, esse movimento ainda está nos primeiros passos, mas as oportunidades são promissoras. A Esporte Educa já deu um importante passo ao criar um programa de intercâmbio esportivo e educacional para jovens brasileiros que desejam praticar futebol americano em escolas e universidades dos Estados Unidos. Com orgulho, já ajudamos o primeiro atleta a garantir sua vaga em uma instituição americana. E isso é apenas o começo!

No entanto, é fundamental destacar a importância de ações locais que preparem esses jovens para jogar aqui no Brasil e os qualifiquem para bolsas de estudo no exterior. Hoje, existem poucas vagas nas principais modalidades brasileiras, como futebol, vôlei, basquete e futsal, o que limita as oportunidades para muitos talentos. Incentivar a prática de novos esportes, como o futebol americano, pode abrir portas para que esses jovens consigam bolsas de estudo em instituições de ensino de qualidade ou até mesmo sigam carreiras profissionais. Além disso, ao promover a prática esportiva, estamos alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 4 (Educação de Qualidade), ao garantir que mais jovens tenham acesso a oportunidades educacionais por meio do esporte, e o ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), ao combater o sedentarismo e promover saúde para as próximas gerações.

A Esporte Educa vê essa iniciativa não apenas como uma forma de explorar o mercado americano, mas também como uma oportunidade de expandir o número de jovens praticantes de esportes no Brasil, ajudando a consolidar novas modalidades e a preparar uma geração mais ativa e saudável.

Números que reforçam o potencial da NFL no Brasil

Com mais de 35 milhões de fãs no Brasil, o potencial para o crescimento da NFL é gigantesco. Contudo, para consolidar essa base, precisamos transformar o entusiasmo em prática. A prática do esporte cria uma conexão emocional mais profunda do que simplesmente assistir a um jogo. Nos EUA, a prática começa nas escolas e continua nas universidades, criando uma relação de pertencimento e identidade com o esporte.

No Brasil, viabilizar isso é um movimento estratégico paralelo às outras áreas de negócio, como marketing, publicidade e transmissões.

Memória Afetiva e Fidelização de Gerações

Ao proporcionar experiências práticas, estamos criando memórias afetivas. Quando as crianças têm a chance de praticar futebol americano, elas não apenas aprendem as regras do jogo, mas criam um vínculo emocional com o esporte. Essa é a base para uma fidelização de longo prazo, onde o esporte passa a ser algo que elas vivenciaram, não apenas assistiram. Isso abre um enorme potencial econômico, pois uma geração de atletas e torcedores fieis cria uma rede de consumidores para o futuro, atraindo marcas, investidores e novas oportunidades.

Além disso, com a inclusão do flag football nas Olimpíadas de Los Angeles 2028​, temos uma oportunidade de ouro para expandir o alcance do futebol americano no Brasil. O flag football, sendo uma versão mais acessível e de menor contato físico, oferece uma entrada para que ainda mais jovens possam praticar o esporte em segurança, fomentando a popularização da modalidade.

Conclusão

O jogo da NFL no Brasil em 2024 é um marco, mas, para garantir o futuro do esporte no país, precisamos começar agora a investir na prática esportiva entre as crianças. A experiência prática cria a base emocional e econômica para o crescimento sustentável do futebol americano no Brasil. Assim como nos EUA, o esporte, a educação e a prática precisam caminhar lado a lado, para que possamos ver o futebol americano não apenas como um espetáculo de marketing, mas como uma força transformadora para as próximas gerações.

O chute inicial para o field goal foi dado na Arena Corinthians no dia 06 de setembro, mas, como em qualquer projeto, a continuidade não pode se limitar a jogos pontuais a cada dois ou três anos. Para construir um legado duradouro, precisamos de prática, formação e, principalmente, de um engajamento contínuo. A pergunta que fica é: estamos prontos para garantir que o próximo touchdown seja uma vitória para todas as gerações?

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