As apostas esportivas online têm experimentado um crescimento exponencial no Brasil, tornando-se uma febre nacional que impacta diversos setores da sociedade. Termos como “odds”, “handicap” e “cash out” passaram a integrar o vocabulário popular, refletindo a disseminação dessa nova forma de entretenimento.
Discussões sobre “bancas”, “acumuladas” e estratégias de apostas tornaram-se comuns em rodas de conversa, evidenciando como as apostas esportivas se enraizaram na cultura contemporânea. No entanto, junto com as oportunidades, surgem desafios que exigem atenção, especialmente no que diz respeito ao consumo das classes mais baixas e ao aumento de jogadores compulsivos.
Expansão do Mercado de Apostas Esportivas
O mercado brasileiro de apostas esportivas movimentou entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões em 2023, com projeções de alcançar até R$ 130 bilhões em 2024, de acordo com executivos da Strategy&, consultoria estratégica da PwC.
Esse montante é comparável ao volume de vendas de grandes empresas digitais na América Latina, evidenciando a magnitude do setor.
As empresas de apostas, conhecidas por contratos milionários com clubes de futebol, investem pesadamente em marketing para conquistar visibilidade. Em média, direcionam R$ 9 milhões por ano para campanhas publicitárias, representando entre 45% e 75% de suas receitas, conforme relatório do Itaú BBA assinado por Luiz Cherman e Pedro Duarte. Esse percentual é significativamente alto quando comparado a mercados mais maduros, como o Reino Unido, onde o investimento em marketing gira em torno de 20% da receita bruta, ou os Estados Unidos, com cerca de 30%.
Impactos no Consumo e na Economia
Apesar da melhora nos indicadores de emprego e renda, especialmente entre as classes C e D, a recuperação do poder de compra dessas faixas da população não tem sido tão expressiva quanto o esperado.
Estudos da Strategy& indicam que o aumento dos gastos com apostas esportivas online pode estar afetando o processo de recuperação do consumo no país. Muitos consumidores estão utilizando recursos da poupança para apostar nesses aplicativos, o que pressiona ainda mais os orçamentos familiares e limita o crescimento mais homogêneo e acelerado do varejo.
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que 60% dos brasileiros que já fizeram alguma aposta esportiva perderam dinheiro, resultando em um comprometimento maior dos orçamentos pessoais. Segundo dados da Comscore, empresa de análise de dados, o Brasil ocupa a terceira posição mundial em consumo de casas de apostas, atrás apenas dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Esse cenário levanta preocupações sobre o impacto das apostas no bem-estar financeiro das famílias e na economia como um todo, já que boa parte dos apostadores no Brasil acreditam que as apostas podem ser uma fonte de renda extra.
“Observamos que nos mercados internacionais regulados, como na Inglaterra, não há a ideia de que as apostas podem ser usadas como fonte de renda extra. Elas devem ser encaradas como entretenimento, assim como assistir a um show. Da mesma forma, o dinheiro destinado às apostas deve seguir essa lógica, promovendo uma mentalidade de jogo responsável aqui no Brasil”, comentou Leonardo Baptista, CEO e Cofundador da Pay4fun, ao MKTEsportivo.
Regulamentação e Medidas Governamentais
Reconhecendo a necessidade de regulamentar o setor, o governo brasileiro sancionou uma lei em dezembro de 2023 que estabelece diretrizes para as apostas esportivas online.
A regulamentação inclui a tributação das empresas operadoras de apostas assim que começarem a operar oficialmente no território nacional. O Ministério da Fazenda estima que o setor movimentou R$ 120 bilhões em 2023, um aumento de 71% em comparação com 2020, e projeta uma arrecadação anual de R$ 12 bilhões em impostos.
A regulamentação prevê tributação de 15% sobre o valor do prêmio dos apostadores e 12% sobre o dinheiro arrecadado pelas empresas, com a maior parte dos recursos destinada aos ministérios do Esporte e do Turismo. Além da tributação, as novas regras estabelecem medidas para evitar fraudes e proteger apostadores com problemas associados aos jogos. Entre as principais diretrizes estão a obrigatoriedade de que as empresas tenham sede e administração no Brasil, oferecendo segurança cibernética, e a proibição de sugerir que apostas são um tipo de renda extra.
Também está previsto que o pagamento dos jogos não poderá ser feito com cartão de crédito, apenas com Pix e transferência bancária, e as apostas são proibidas para menores de idade, jogadores, técnicos e árbitros.
A Importância do Jogo Responsável e o Papel das Empresas
Diante dos desafios apresentados pelo crescimento das apostas esportivas, algumas empresas têm adotado práticas proativas para promover o jogo responsável e proteger seus usuários. A Reals Bet é um exemplo de plataforma que utiliza sua comunicação para promover o bem-estar dos apostadores, implementando medidas que incentivam o jogo saudável.
“Na Reals, temos a preocupação com o jogo saudável e pregamos sempre a responsabilidade de nossos jogadores. Fazemos um amplo monitoramento de todos os nossos players, detectamos os perfis mais arrojados e disponibilizamos a opção para o cliente impor limites e até não utilizar mais a nossa plataforma. A comunicação visando o jogo responsável é constante e, em breve, faremos novas campanhas para continuar reforçando o tema”, destaca Rafael Borges, Country Manager da Reals, em entrevista ao MKTEsportivo.
Inegavelmente, a regulamentação é um passo importante, mas enfrenta desafios para ser efetiva. O mercado precisa ver, na prática, medidas complementares e que a sociedade esteja engajada em promover um ambiente de apostas mais seguro e responsável. A fiscalização rigorosa, no fim, é essencial para que as empresas cumpram as normas estabelecidas, incluindo a proteção de dados dos usuários e a transparência nas operações.
Além disso, destinar parte dos recursos arrecadados com a tributação para programas de prevenção e tratamento da ludopatia pode ajudar aqueles que já enfrentam problemas com o jogo. Parcerias com o setor privado são fundamentais para incentivar as empresas de apostas a adotarem políticas de responsabilidade social, incluindo a implementação de ferramentas que permitam aos usuários estabelecer limites de tempo e dinheiro gastos nas plataformas.