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A Dualidade da Copinha: fábrica de oportunidades ou o despertar de um sonho utópico?

Ambos! Ao mesmo tempo que ela alimenta esperanças de uma carreira no futebol, a Copinha expõe aos jovens a dura realidade da profissão e da vida

A Dualidade da Copinha: fábrica de oportunidades ou o despertar de um sonho utópico?

27 de novembro de 2024

9 minutos de Leitura

Ivan Ballesteros
Ivan Ballesteros
CEO e fundador da Esporte Educa, primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país

Enquanto o fim do ano traz conversas sobre as festas, luzes de Natal e o espírito de renovação, no mundo do esporte o foco muda para uma tradição que, nos próximos 60 dias, será o centro das atenções: a Copa São Paulo de Futebol Júnior.

A Copinha, como é carinhosamente chamada, é muito mais que um torneio de base. É a maior vitrine para jovens talentos do Brasil. É onde milhares de atletas buscam transformar seus sonhos em realidade e alcançar o seleto grupo dos profissionais. Para muitos, é o palco de suas vidas; para outros, sua última oportunidade.

Embora eu tenha sido atleta profissional, não tive a chance de realizar o sonho de jogar a Copinha. Este é um sonho compartilhado por tantos jovens que enxergam nela um trampolim para o estrelato. Apesar de sua mágica, é importante olharmos além do brilho inicial da competição para entender a dualidade que ela carrega consigo.

Copinha: Um Palco de Oportunidades

A Copinha é a principal competição de futebol de base do Brasil, reunindo equipes sub-20 de todo o país em um formato intenso e democrático. Organizada pela Federação Paulista de Futebol (FPF), ela ocorre anualmente em janeiro, com a final tradicionalmente realizada no dia 25, aniversário da cidade de São Paulo.

Com cerca de 128 times e 3 mil jovens atletas competindo em diversas cidades-sede do Estado, a Copinha é um palco onde sonhos são alimentados e talentos são revelados. Grandes nomes do futebol brasileiro, como Ronaldinho Gaúcho, Rogério Ceni, Neymar, Vini Jr, Kaká e Casemiro, tiveram suas primeiras glórias na competição. Mas esta lista, tão celebrada, é apenas uma parte da história.

E aqui deixo os meus sinceros parabéns à Federação Paulista de Futebol, por demonstrar preocupação em criar oportunidades que vão além dos clubes paulistas, beneficiando também equipes de todos os estados. Afinal, sem essa competição, as oportunidades seriam significativamente menores. No entanto, essa lista de craques tão celebrada e as oportunidades ampliadas no futebol pelo torneio, representam apenas uma parte da história.

A Outra Face da Copinha

Apesar de sua fama como “fábrica de talentos”, a Copinha também pode ser considerada o fim do sonho para a maioria dos jovens. Afinal, qual será a próxima etapa se não houver sucesso nessa? Um levantamento da DeltaFolha revela uma dura realidade:

“A cada Grande astro da seleção que surge na Copinha, outros 1.500 jogadores deixam o futebol ou sobrevivem com salários equivalentes aos da última divisão nacional”.

O estudo da Deltafolha mostra o quão estreito é o funil que define a vida desses jovens:

  • 37% dos jogadores que jogam a Copinha nunca chegam a atuar no profissional;
  • 41% sobrevivem no futebol com salários inferiores aos da média da Série D;
  • Apenas 22% conseguem se manter como atletas profissionais;
  • 2,6% alcançam carreiras de grande sucesso.

Para muitos, a competição se torna o despertar para um grande desafio: a necessidade de buscar outra carreira no mercado formal. 

Segundo a pesquisa, apenas 2,6% dos jogadores da Copinha atingem o estrelato, enquanto 82% dos jogadores de futebol no Brasil ganham até um salário mínimo.

Sem mencionar os milhares que ficam sem contrato ao longo do ano devido à falta de calendário nas divisões inferiores.

Caso você tenha interesse em explorar mais profundamente alguns dados, convido você a reler minhas colunas sobre esporte e educação. Nelas, você encontra análises detalhadas sobre o tema. Se já leu, agradeço por acompanhar meus estudos e reflexões. Seu feedback é sempre muito bem-vindo!

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A Última Chance para Muitos

Com atletas entre 16 e 21 anos, a Copinha oferece não apenas visibilidade, mas também esperança. Porém, o sucesso individual dos jovens está frequentemente atrelado à relevância de seus clubes no torneio ou ao suporte de empresários influentes.

No final, a maioria dos participantes enfrenta um caminho incerto após a competição. Sem contratos garantidos ou oportunidades concretas, muitos abandonam os gramados e buscam novos horizontes no mercado formal, mas eles estão ou foram preparados para esse novo cenário?

Estes números não são apenas estatísticas; são histórias de jovens que dedicaram anos de suas vidas ao esporte, mas que, na maioria das vezes, não encontraram o futuro esperado.

A Importância da Educação

A Copinha escancara não apenas o abismo entre os poucos que atingem o estrelato e a maioria que luta para se sustentar, mas também a falta de estrutura no desenvolvimento desses jovens. Muitos clubes oferecem suporte limitado e priorizam o talento em campo, enquanto negligenciam a formação integral dos atletas. Eu mesmo já escutei a seguinte frase de um “profissional de futebol” que deveria cuidar dos jovens atletas: 

“Não importa quantos meninos não deem certo no futebol e não estudem agora; depois, os que não conseguirem correm atrás. Eu me preocupo com o que vai dar certo e ser vendido”.

Acredito que, felizmente, não existam mais tantos profissionais como esse no esporte. Estou no mercado e vejo cada vez mais profissionais qualificados, com estudo, consciência e responsabilidade social. No entanto, ainda há um problema: embora bem-intencionados e capacitados, muitos desses profissionais acabam sobrecarregados, assumindo funções de duas ou até três pessoas. Com isso, muitas vezes, afogados em tarefas esportivas, burocráticas ou administrativas, não lhes resta tempo para se dedicar à educação.

E daí surge a importância fundamental de estabelecer parcerias, terceirizar serviços ou até mesmo contratar empresas especializadas. A minha empresa, Esporte Educa, só existe graças a essa lógica, pois entendemos que compartilhar responsabilidades é essencial para garantir eficiência e permitir que os profissionais possam cuidar de todas as frentes, sem negligenciar a educação.

A realidade é que 99% dos jovens não alcançam o profissionalismo e precisarão de uma nova oportunidade. Mesmo entre o 1% que chega lá, poucos alcançam sucesso. Muitos enfrentam desafios como lesões, frustrações ou acabam abandonando a carreira, e alguns até enfrentam problemas graves, como prisões.

E qual é o caminho?

Quem me conhece sabe que prefiro focar em soluções em vez de problemas. Por isso, sugiro uma reflexão: se muitos clubes ainda oferecem um suporte limitado, focando exclusivamente no desenvolvimento técnico e negligenciando aspectos fundamentais como educação, saúde mental e orientação de carreira. Preencher esse espaço é uma oportunidade para oferecer um suporte mais completo e transformador. 

O que poderia ser feito?

  • Educação como Pilar:

Programas que integrem futebol e educação são fundamentais para preparar os jovens para a vida além dos gramados. Iniciativas como a recente SPFC University, criada em parceria com a Dom Bosco, do Grupo SEB, e meus amigos da Universidade do Futebol; a nova escola de inglês TUFE, que ensina inglês voltado para atletas e treinadores; e a Esporte Educa, empresa da qual sou fundador, que oferece bolsas de estudo em colégios, universidades e intercâmbios no exterior, além de uma escola digital reconhecida pelo MEC, focada em ensinar habilidades essenciais para o esporte e a vida, têm demonstrado como é possível proporcionar uma formação integral aos atletas.

  • Planejamento, Orientação e Requalificação:

Os jogadores precisam de suporte para entender o mercado esportivo e o mercado formal, quais são suas alternativas nesse mundo? Traçar planos alternativos de carreira ou até mesmo planos paralelos.

  • Apoio Psicológico:

A transição para outras áreas é emocionalmente desafiadora. Oferecer suporte psicológico ajuda os jovens a lidarem com as frustrações e a redescobrirem seus potenciais.

  • Parcerias e Investimentos:

Empresas e marcas podem investir em projetos que conectem esporte e educação, ampliando o impacto social e gerando valor para suas imagens.

E Depois da Copinha?

A Copinha é, ao mesmo tempo, a maior vitrine do futebol brasileiro e o símbolo de um funil cruel. Enquanto alguns poucos atingem o topo, a grande maioria dos jovens percebe que precisará recomeçar. 

Este cenário nos convida a refletir: como podemos melhorar as condições para esses atletas?

Como podemos transformar a dualidade da Copinha em uma oportunidade não apenas para revelar talentos no futebol, mas também para formar cidadãos preparados para qualquer caminho que decidam trilhar?

Fica o desafio para clubes, federações e marcas que apoiam o esporte. Afinal, o futebol é muito mais do que 90 minutos em campo. É a construção de futuros, dentro e fora das quatro linhas.

A Copinha continuará sendo o palco onde jovens brilham e atraem os olhares de clubes e empresários. Mas é imprescindível que o debate vá além do talento esportivo, reconhecendo que muitos desses jovens não encontrarão o sucesso nos gramados. 

Prepará-los para novos caminhos é uma responsabilidade que deve ser compartilhada entre clubes, federações, marcas e instituições de ensino.

A dualidade da Copinha é um reflexo do próprio futebol brasileiro: paixão, esperança e desafios coexistem em um ambiente de extrema competitividade. E ainda bem que ela existe, pois ela realmente melhora as chances desses jovens que já não são muitas. 

Investir na formação integral dos jovens não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas uma maneira de garantir que, independentemente do destino no futebol, todos tenham a chance de alcançar um futuro digno e promissor. Afinal, o sonho de um jovem não deveria acabar junto com o apito final.

Até a próxima coluna, caro leitor!

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