
Fevereiro é um mês especial. Além de ser o mês de aniversário de lendas como Michael Jordan e Oscar Schmidt, em 2025, ele entrou para a história da NBA por um motivo inesperado: uma das trocas mais surpreendentes da liga. Luka Doncic deixou o Dallas Mavericks para se juntar a LeBron James no Los Angeles Lakers, enquanto Anthony Davis seguiu para Dallas em troca.
O “Tesouro”, apelido carinhoso do esloveno, sempre correspondeu às expectativas que projetavam para sua carreira. Um talento nato, com potencial real para levar o Dallas Mavericks ao seu segundo título da NBA. Eu tive o privilégio de ver Luka ao vivo em 2015, no ginásio do Ibirapuera, quando ele ainda defendia o Real Madrid. O time espanhol veio ao Brasil para disputar a Copa Intercontinental contra o Bauru Basket, destaque do NBB. Na época, eu trabalhava na Liga Nacional de Basquete e contribuíamos com a organização do evento, em parceria com a FIBA. Desde então, já era evidente que Luka era especial e que o mundo ainda ouviria muito sobre ele.
E, de fato, em fevereiro de 2025, ele foi o nome mais falado. Mas não pelos feitos em quadra, e sim por um verdadeiro “roubo de piratas”, que levou o tesouro direto para Hollywood. A troca causou um grande impacto, especialmente pela narrativa de que Doncic seria o novo rosto da franquia texana, assim como Dirk Nowitzki foi por 21 temporadas. Dirk conquistou o título de 2011 e, desde então, os torcedores do Dallas sonhavam com uma nova era vitoriosa, agora sob a liderança do esloveno. Luka chegou a levar a franquia para mais uma final de campeonato, alimentando ainda mais esse déjà vu: um estrangeiro fantástico que vai dar um troféu para a franquia do Mavs.
O desejo de ver Doncic se tornar um eterno jogador dos Mavericks também se fortaleceu nos últimos anos com a ascensão dos estrangeiros na NBA. Desde 2020, o MVP da temporada sempre foi um atleta internacional. Em 2021, o Milwaukee Bucks foi campeão com Giannis Antetokounmpo como destaque; em 2023, o Denver Nuggets levantou o troféu sob a liderança de Nikola Jokic. Ambas as franquias moldaram seus elencos para fortalecer seus astros internacionais. A expectativa era de que o Dallas seguisse essa tendência com Luka. Mas a realidade foi outra.
E o que essa troca revela sobre o trabalho da NBA no Brasil? A liga soube furar a bolha e se tornar um assunto popular em qualquer roda de conversa atualmente. Esportivamente, a troca foi bombástica, mas o impacto no Brasil foi amplificado pelo excelente trabalho de branding da NBA no país. Mesmo quem nunca arremessou uma bola de basquete comentou sobre essa negociação. O último fenômeno esportivo com tamanho alcance midiático no Brasil foi o retorno de Neymar ao Santos. Mas, proporcionalmente, a saída de Luka de Dallas gerou um barulho ainda maior. Os principais veículos de comunicação repercutiram a notícia com a mesma intensidade que fazem com grandes transferências do futebol.
Isso porque a NBA internacional gera muito conteúdo próprio e isso abastece o mundo da mídia de maneira espontânea. Ela mesma cria suas narrativas temáticas e distribuí, com extrema qualidade, mundo afora.
Muito se especulou sobre os motivos da troca: problemas físicos, uma possível insatisfação dos novos donos do Mavericks, rumores sobre a mudança da franquia para Las Vegas, ou até a amizade de longa data entre os GMs das duas equipes. Outra teoria que circula é que Luka não mantinha uma rotina disciplinada fora das quadras. O que torna tudo ainda mais intrigante é que raramente vemos superastros de 25 anos sendo trocados dessa forma. Normalmente, franquias fazem de tudo para manter esse tipo de jogador. Mas, dessa vez, a decisão foi diferente.
A grande questão que essa troca levanta vai além das quadras: no final das contas, atletas são tratados como mercadorias dentro da estrutura corporativa da NBA. Luka Doncic, um dos jogadores mais carismáticos da liga, apareceu na coletiva de apresentação nos Lakers sem muitos sorrisos. Ele, que sempre foi sinônimo de alegria, parecia absorver a realidade de ser parte de um grande negócio. Num contexto histórico, ele está indo defender a camisa do Lakers, uma das maiores franquias esportivas do mundo, isso entre todas as modalidades.
Mas e agora? Como transformar essa mudança inesperada em uma oportunidade? Doncic pode não ser o basqueteiro mais atlético da NBA, mas sua inteligência de jogo equilibra qualquer confronto. E agora ele terá a chance de treinar, jogar e aprender com LeBron James, o maior pontuador da história da liga. Estima-se que LeBron ainda jogue por mais seis temporadas (com uma pitada de ironia, mas um fundo de verdade). A convivência diária pode ajudar Luka a adotar hábitos mais saudáveis sem perder sua essência.
Além disso, agora ele veste a camisa da franquia mais emblemática da NBA. O Lakers é a segunda equipe com mais títulos na história da liga e a que mais acumulou lendas: Elgin Baylor (The Rabbit, o mito), Jerry West (logoman), Wilt Chamberlain (fez 101 pontos num jogo), Kareem Abdul-Jabbar (criador do imarcável Skyhook), Magic Johnson (sinônimo de carisma), Shaquille O’neal (o imparável) e Kobe Bryant (o mais comprometido atleta da NBA), apenas para citar alguns. Jogar em Los Angeles amplifica tudo, e Luka terá a chance de se beneficiar financeiramente dessa visibilidade.
Gosto de pensar que o futuro está mais promissor para Luka. Sim, nessa troca ele perdeu alguns bons milhões de dólares por conta das regras salariais da NBA. Porém, jogar em Los Angeles deixa tudo mais amplificado e ele poderá, rapidamente, se beneficiar financeiramente.
Ele tem a oportunidade de trazer um título para o Lakers e, quem sabe, ainda voltar para o Dallas. O mundo gira igual uma bola de basquete em direção da cesta, tudo pode acontecer. Bora assistir o novo tesouro de Hollywood e ver o que vai acontecer nessa história, que com certeza é um blockbuster.