Coluna

NBA e FIBA se unem para transformar o basquete europeu

Mais do que expansão, a nova liga europeia representa o maior movimento estratégico do basquete internacional desde o “Dream Team”

NBA e FIBA se unem para transformar o basquete europeu

17 de abril de 2025

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Felipe Joseph
Felipe Joseph
Felipe Joseph é Coordenador de Relações Esportivas da Penalty e possui mais de 19 anos de experiência em marketing, publicidade e promoção.

No meu último artigo, intencionalmente já prevendo que o assunto de uma nova Liga fosse ganhar força, abordei como a NBA é um excelente exemplo de companhia que trabalha a expansão de sua marca por meio de estratégias e parcerias globais. Agora, essa visão se concretiza com uma notícia que promete mudar os rumos do esporte mundial.

Nos bastidores do basquete internacional, ganha força a possibilidade da criação de uma nova liga europeia, fruto de uma parceria entre a NBA e a FIBA, anunciada oficialmente no final de março de 2025. Mais do que um movimento esportivo, trata-se de uma estratégia de negócios com potencial para transformar o futuro do basquete global.

Mas por que a NBA, já dominante na América e em outras regiões do mundo, estaria interessada em participar da criação de uma liga na Europa? E o que a FIBA ganha com isso? A resposta passa por expansão de marca, novos mercados, desenvolvimento de talentos e, claro, geração de receita.

A Europa é uma das regiões mais apaixonadas por basquete fora dos Estados Unidos. Países como Espanha, França, Lituânia e Sérvia respiram o esporte. Além disso, ao longo dos anos, o continente consolidou diversos pontos positivos relacionados ao basquete e aos times atuantes nas ligas nacionais: torcidas engajadas, arenas modernas, cultura esportiva enraizada, poder aquisitivo elevado e ídolos globais — como Nikola Jokić, Giannis Antetokounmpo e Luka Dončić — que hoje são os principais rostos da NBA.

Investir na Europa não é apenas expansão — é estratégia de longo prazo. É garantir que o ecossistema da NBA continue se fortalecendo fora dos EUA, alimentando a liga com novos talentos e novas audiências. O vice-comissário da NBA, Mark Tatum, declarou que o objetivo não é substituir a Euroliga, mas sim complementar o ecossistema existente, com uma proposta baseada no mérito esportivo e respeito às tradições locais.

E há razões práticas e urgentes para isso. Diferente de outras localidades mundo afora, para a NBA entrar no mercado europeu de forma genuína, é necessário um esforço mais profundo. Já existem iniciativas como NBA School e um centro de treinamento fixo no continente, mas o fuso horário, por exemplo, ainda dificulta a experiência dos fãs europeus de acompanhar jogos ao vivo da NBA.

Essa nova liga surge, portanto, como uma solução. A partir de uma atuação legítima e próxima, a NBA passa a estar envolvida nas decisões locais, a estreitar laços com clubes, federações, empresas de mídia, e a criar vínculos com os futuros ídolos — tudo isso com uma presença no horário nobre europeu.

FIBA: fortalecimento e reposicionamento

Do lado da FIBA, o movimento também é estratégico. Historicamente, a entidade sempre tentou estruturar ligas continentais com padrão global, mas enfrentou desafios de governança e relevância midiática diante da Euroliga, que opera de forma independente.

Com a parceria, a FIBA passa a acessar o know-how da liga mais poderosa do mundo. Segundo Jorge Garbajosa, presidente da FIBA Europa, o projeto busca alinhar os interesses de clubes e investidores e explorar oportunidades comerciais que hoje estão subaproveitadas. A entidade também se posiciona como protagonista de um novo ciclo de modernização do basquete europeu.

A proposta é ambiciosa: uma liga com 16 equipes, sendo 12 permanentes, e discussões iniciais envolvendo investidores ligados a gigantes como PSG e Manchester City.

Se confirmada da maneira que foi inicialmente anunciada, a nova liga pode funcionar como um verdadeiro motor de crescimento para o basquete europeu: clubes mais estruturados, mais espaço para talentos locais, e melhores estruturas para categorias de base.

Jogadores com menos espaço na NBA poderão encontrar na nova liga uma vitrine competitiva e de alto nível técnico. Do ponto de vista comercial, abre-se um leque de possibilidades — inclusive para pacotes integrados de mídia entre NBA e a nova competição europeia. Não seria impensável que plataformas da própria NBA começassem a transmitir conteúdos e jogos da nova liga, conectando audiências de ambos os lados do Atlântico.

Para marcas, trata-se de um produto com apelo internacional, narrativas envolventes e alto potencial de engajamento com as novas gerações — especialmente no ambiente digital, onde o basquete já se destaca como uma das modalidades mais consumidas.

Desafios reais, mas não intransponíveis

Claro que ainda existem muitos desafios. O principal deles é o choque com a atual Euroliga e seus clubes tradicionais. Além disso, há o risco de conflito de calendários, a disputa por verbas de transmissão, diferenças na cultura de negócios entre EUA e Europa, e até possíveis tensões políticas entre federações nacionais.

Neste exato momento, acredito que há um grupo de executivos — tanto da NBA quanto da FIBA — debruçados sobre esses pontos, desenhando um modelo sustentável, viável e que respeite o contexto europeu, sem abrir mão do potencial global.

O futuro é global — e o basquete sabe disso

O futebol já mostrou que ligas continentais bem-organizadas podem gerar bilhões e impactar toda uma cadeia produtiva. O basquete, com seu ritmo ágil, apelo midiático e conexão com o lifestyle urbano, tem tudo para seguir esse caminho.

A criação de uma nova liga europeia sob chancela da NBA e FIBA pode ser o início de uma nova era global para o esporte. E quem entender isso agora, estará à frente na corrida pelos ativos mais valiosos do marketing esportivo do futuro.

Fiquemos de olho para saber as próximas jogadas dessa partida!

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