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Fechar a transmissão para o streaming será benéfico para o futuro da MLS?

Historicamente, a MLS sempre foi uma liga digitalmente voltada para o futuro

Fechar a transmissão para o streaming será benéfico para  o futuro da MLS?

21 de junho de 2022

3 minutos de Leitura

Eduardo Esteves
Eduardo Esteves
Fundador do MKTEsportivo

Em um movimento histórico, a Major League Soccer fechou um acordo de transmissão exclusivo válido por dez anos com a Apple. Para entender todos os detalhes, é fundamental clicar no link.

Notei uma dúvida generalizada sobre a liga fechar sua transmissão para uma plataforma de streaming em detrimento da Tv linear, que acaba por oferecer visibilidade e audiência muito maiores. No entanto, tudo será parte de um processo que ocorrerá ao longo da década do acordo. Hoje, pairam mais dúvidas, suposições e achismos.

É fundamental ter um olhar mais estratégico sobre este movimento e lembrar da evolução de consumo do futebol nos EUA. A MLS sempre foi uma liga digitalmente voltada para o futuro, muito mais preocupada em impactar o torcedor que está constantemente conectado. Não há um tradicionalismo. Por lá, há expansão de franquias, constante modernização de escudos e identidades, além de celebrações pontuais como parte de sua cultura.

Aproveitar as inúmeras oportunidades em torno do ecossistema da Apple, seja em devices, tecnologia e penetração de mercado, ratifica a visão da MLS do esporte como plataforma de negócio. E no anúncio da parceria, a presença da palavra ‘everywhere’, indicativo de que será uma preocupação das partes marcar presença em diversos pontos de contato.

Mas há um outro lado que deve ser levado em consideração. Com os jogos presentes apenas no Apple Tv, o alcance total é reduzido e a liga precisará trabalhar muito para atingir o maior número possível de espectadores. Além disso, a MLS será responsável por arcar com todos os custos de produção associados às partidas. E para isso é preciso abordar sobre o dinheiro.

No âmbito financeiro, a liga americana de futebol ganhará, no mínimo, US$ 250 milhões por temporada até 2032. Sim, no mínimo, já que o contrato contempla uma plataforma de transmissão exclusiva da MLS dentro da Apple Tv, cuja assinatura reverterá em receita para a liga. Hoje, ESPN, Fox e Univision pagam US$ 65 milhões por ano pelos jogos. Por si só, um aumento financeiro expressivo. Naturalmente, todos os clubes ganharão mais, de atuais US$ 2.3 milhões para aproximadamente US$ 7.5 milhões cada. Nada que os mudará de patamar, é verdade, mas um montante que será importante para o investimento anual que é feito nas categorias de base.

Este olhar para o futuro é parte fundamental dos planos da Bundesliga, por exemplo. Lembra do estudo encomendado pela liga alemã em 2019? Uma clara preocupação em conhecer o seu jovem torcedor e entregar cada vez mais conteúdos personalizados. Isso passa por testar em mercados estratégicos transmissões via streaming e planos de assinatura, como ela já o faz em território americano. UEFA e LaLiga, também.

E no Brasil? Bom, recentemente, saiu um estudo da Kantar Ibope que mostra como o nosso mercado ainda é tradicional no que tange consumo de conteúdo. A TV linear (com uma programação fixa, com horários e atrações pré-definidas) segue em alta, com 79% do tempo dos brasileiros assistindo televisão voltado aos canais abertos ou fechados. Já no streaming, é de 21%.

Essa quebra de paradigmas não pode ser vista com espanto. A Major League Soccer, mesmo muito nova, sempre se colocou no futuro, inovando, testando e absorvendo melhores práticas de outras ligas, como NBA e NFL. O pioneiro acordo com a Apple chega para iniciar e, quem sabe, coroar uma estratégia que pode se mostrar certeira.

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