Coluna

A importância da relação do acervo histórico e comunicação de um clube

Todo material novo, quando capturado e enviado ao ar, já está virando acervo histórico

A importância da relação do acervo histórico e comunicação de um clube
Imagem: Felipe Campoy

10 de agosto de 2023

5 minutos de Leitura

Adalberto Generoso
Adalberto Generoso
CoFundador e CEO da Yapoli, empreendedor serial com mais de 10 anos de experiência em tecnologia, marketing e digital e vencedor de 3 Cannes Lions.

Você sabia que alguns de nossos hoje famosos clubes de futebol, começaram com outra modalidade esportiva, a regata?

O Flamengo, por exemplo, se chama Clube de Regatas do Flamengo e foi fundado em 15 de novembro de 1895, há 127 anos.

Como ele, há outros clubes cariocas de destaque, que se iniciaram nas regatas e são centenários: Botafogo de Futebol e Regatas (1894 – 129 anos), Club de Regatas Vasco da Gama (1898 – 124 anos).

Por sua vez, entre os paulistas, temos o Sport Club Corinthians Paulista (1910 – 112 anos), a Sociedade Esportiva Palmeiras (1914 – 108 anos), o São Paulo Futebol Clube (1930 – 93 anos) o “caçula” da relação, que embora se iniciaram com o futebol, são clubes poliesportivos, ou seja, o futebol não é o único esporte praticado nessas agremiações.

Quando dizemos 100 anos, estamos falando de 4 ou 5 gerações humanas. Quanta coisa não deve ter ocorrido nesses clubes nesse tempo todo! Jogadores emblemáticos, gols maravilhosos, títulos em outros esportes. Procurei na internet por essas informações, mas encontrei bem pouca coisa, o que me fez escrever este artigo.

O que foi feito dessas informações todas, onde está a história desses clubes?

Entendo que muitas informações, fotos, filmagens, entre outros ativos, estão em formato analógico, ou seja, em papel, filme, inclusive daguerreótipos (técnica fotográfica inventada em 1839 na França).
Muitos desses ativos estão no Museu da Imagem e do Som (MIS), Arquivo Nacional (Rio de Janeiro), um pouco nos acervos físicos dos clubes e, grande parte, diluído entre torcedores preocupados com sua conservação.  

“O MIS tem um vasto acervo, tanto na parte iconográfica quanto na parte textual, bem como também dos grandes jogos na antiga Rádio Nacional. Temos também o Projeto ‘Depoimentos para a Posteridade’ no qual há vários depoimentos de craques como Zagallo, [João] Saldanha, Zico, [Roberto] Dinamite, Pelé, Júnior.” – Cesar Miranda Ribeiro Presidente do Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro.

Porém, pela dificuldade de pesquisa, manuseio e recuperação desses ativos, nós temos pouco conhecimento sobre seu conteúdo. Para a sociedade é material perdido, pegando poeira nos museus à espera de pesquisadores que quase nunca chegam. Somos uma nação sem memória e, nas palavras da historiadora Emília Viotti da Costa (1928-2017): “Um povo sem memória é um povo sem história”. 

Os clubes nacionais têm grande dificuldade ainda hoje em conservar, concentrar, centralizar e consumir o acervo histórico. Falta domínio sobre o material existente para consumi-lo, falta capacidade para buscar dentro de um volume substancial de materiais seus e em terceiros, aquilo que é interessante e pertinente para o momento. É um desafio absurdo, pois todos os dias novos materiais históricos são gerados, de várias modalidades esportivas, em grande quantidade.

O poder do acervo histórico

Todo material novo, quando capturado e enviado ao ar, já está virando acervo histórico.

Não guardá-lo adequadamente gera inúmeros impedimentos para que as áreas de marketing e comunicação dos clubes consultem esses materiais e gerem nova comunicação. Afinal, o que proporciona engajamento das pessoas, nesta era digital, com o clube é justamente explorar esse acervo histórico. Aniversário de jogadores, gols emblemáticos, campeonatos ganhos no passado. Tudo isso em todas as categorias de todas as modalidades esportivas, são explorados no dia a dia na comunicação de um clube com seus torcedores, sem contar patrocinadores, jurídico, loja, franquias, entre outros.

Ciclo do “Ouroborus”

Os clubes devem perceber que a conexão entre acervo histórico e comunicação é contínua e cíclica: o acervo histórico alimenta a comunicação com dados, a fim de gerar engajamento com os torcedores existentes e trazer novos, mantendo a história viva para as futuras gerações e, a comunicação, gera novos materiais que se tornam acervo histórico. Isso ocorre ainda hoje, infelizmente na maioria das vezes, apenas através das redes sociais, o que é uma grande limitação.   

Exemplos são fotografias tiradas dentro do campo, streaming onde os jogos que são transmitidos ao vivo precisam ser capturados e armazenados a fim de virar acervo histórico, para poderem ser, posteriormente, utilizados novamente.

Fazendo o processo acontecer

Para facilitar as operações dos envolvidos nas tarefas cíclicas de conversão de acervo histórico em comunicação e vice-versa, existem ferramentas informáticas especializadas, das quais a melhor, sem dúvida, é o DAM (Digital Asset Management ou Gestão de Ativos Digitais em português).

Na imagem da abertura deste texto, o papel da “seta” que faz a mágica acontecer é justamente do DAM, que é a “espinha dorsal” ou “fio condutor” do processo todo.    

Sua função é basicamente armazenar, centralizar, padronizar e distribuir arquivos digitais para que todos os envolvidos nos processos possam consumir ativos digitais sempre atualizados e centralizados. 

Ao armazená-los com segurança no DAM, respeitando taxonomia adequada, esses ativos vão compor o acervo histórico, que obviamente é o “ouro” (a riqueza) de uma organização, esportiva ou não. 

Não atentar aos cuidados com o acervo histórico de um clube é, sem dúvida, jogar dinheiro e história no lixo.

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