Coluna

Endrick: como tudo começou (Parte 1)

Os detalhes de como foi desenvolver um plano estratégico de imagem para o jovem jogador

Endrick: como tudo começou (Parte 1)
Foto: Rodney Costa/Zimel Press/Gazeta Press

13 de dezembro de 2023

4 minutos de Leitura

Fábio Wolff
Fábio Wolff
Fábio Wolff é sócio-diretor da Wolff Sports, e professor em cursos de MBA em Gestão e Marketing Esportivo na Trevisan Escola de Negócios

A nossa agência teve a primeira oportunidade de iniciar um trabalho de gestão de imagem e patrocínios para um atleta em janeiro de 2022. E o nosso primeiro cliente foi um menino, à época de 15 anos, chamado Endrick.

Preciso admitir que não foi uma tarefa fácil desenvolver um plano estratégico de imagem para ele. Afinal, não havia qualquer benchmark, ou seja, referência de atleta brasileiro com aquela idade.

Apesar de já ser reconhecido como um diamante no meio do futebol de base do Brasil, ele ainda era totalmente desconhecido do mercado corporativo e publicitário.

Quando resolvemos abraçar essa oportunidade, confesso que quebrei a cabeça pensando em como desenvolveríamos um plano estratégico para o jovem atleta, afinal, eu mesmo não o conhecia pessoalmente, muito menos tinha conhecimento do seu inegável talento.

O primeiro passo foi conhecer a família. Essa é uma etapa fundamental no processo, pois a educação e a estrutura familiar nos dizem muito sobre as oportunidades e as ameaças que podem surgir para a carreira de um atleta.

Família com bons valores e boa educação, sem dúvida, constitui um excelente sinal para dar continuidade ao processo. O primeiro contato e a impressão inicial proporcionaram a sensação de que havia um caminho tangível a ser desenvolvido.

Quem me abriu as portas foi o Frederico Pena da TFM (hoje Roc Nation Sports Brazil). Quando o convite veio, causou uma certa estranheza, afinal, sempre soube que os agentes de futebol estavam focados em gerir a carreira do atleta de uma forma que fosse criado um círculo de proteção aos seus respectivos clientes.

Trata-se de um mercado no estilo faroeste, ou seja, teme-se pela aproximação de desconhecidos que possam se aproximar e capturar os seus clientes.

Esse não era o caso, obviamente. Meu core business sempre foi o de patrocínios e jamais pensei em ser agente de futebol. Nesse processo, contei com o auxílio do meu amigo e experiente profissional de mercado, Ivan Martinho, amigo de longa data do Fred.

Achei legal o convite. Isso certamente trouxe uma admiração pelo Fred, que buscava, por intermédio de um especialista de marketing esportivo, algo diferente para o seu cliente. A inteligência dele em atribuir a quem tem expertise de décadas neste mercado foi genial.

Busquei estudar e analisar carreiras bem sucedidas no exterior para aplicar ao planejamento de marketing do talentoso jogador. Dois tenistas sempre me causaram muito boa impressão no modo como gerenciam as suas respectivas carreiras: Rafael Nadal e Roger Federer.

Mas faltava um exemplo no futebol e foi aí que o Endrick me apontou o ídolo Cristiano Ronaldo.

Estudei a fundo as três carreiras, chegando a algumas premissas de mercado que estabeleceria o plano estratégico a ser apresentado à família e ao staff.

Vale mencionar que não foram apenas carreiras bem-sucedidas que me auxiliaram na criação do plano. Também estudei várias gestões malsucedidas para tirar lições dos erros cometidos.

Foto: Kin Cheung/AP

E quais seriam essas premissas?

Número limitado de patrocinadores. Ter uma quantidade excessiva de patrocinadores pode ser bom para o bolso, mas certamente em nada agrega para a imagem, além de desgastar desnecessariamente o atleta, de forma física e mental;

Storytelling é preciso. As empresas atualmente buscam conexões verdadeiras, fit com a marca. Uma troca financeira como foco jamais conseguirá gerar atributos entre o atleta e a marca;

Contratos de longo prazo. Por meio de parcerias de longa duração torna-se possível, de fato, gerar atributos entre o atleta e a marca, bem como entre a marca e o atleta.

Uma vez estabelecidas as premissas e com o aval de todos os envolvidos em relação ao plano estratégico de posicionamento de imagem, demos início ao processo.

Obviamente que a performance avassaladora do atleta foi fundamental para acelerar o trabalho. Em paralelo, fizemos ajustes e seguimos as orientações contidas no plano. Não imaginava, no início, que viveríamos algo tão rápido e intenso. Está sendo um verdadeiro meteoro.

Vieram rapidamente os primeiros contratos de patrocínio, que ajudaram a dar tração ao processo.

Após fecharmos o contrato, quando nos tornamos a agência de patrocínios e imagem do Endrick, me recordo de uma reunião no escritório na Wolff Sports, com o Fred. Na ocasião, ele me questionou: “Ok, mas agora, como você vai precificar o Endrick?”.

Como a coluna tem que ser uma leitura rápida, contarei essa e outras peculiaridades dessa “história de Netflix” na minha próxima coluna deste conceituado portal.

Em breve, retornarei com a parte 2!

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