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Meninas e mulheres são mais ameaçadas em dias de jogos de futebol

Pesquisa “Violência contra mulheres e o futebol”, idealizada pelo Instituto Avon e encomendada ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, detalha cenário preocupante

Meninas e mulheres são mais ameaçadas em dias de jogos de futebol

24 de junho de 2022

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Segundo a pesquisa “Violência contra mulheres e o futebol”, idealizada pelo Instituto Avon e encomendada ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os boletins de ocorrências de ameaça contra mulheres aumentam em 23,7% quando um dos clubes de futebol da cidade atua. A

Estudo analisou incidência de violência em dias com partidas da Série A do Brasileirão

O estudo teve como base de dados de violência informações oriundas de todos os dias de jogos do Campeonato Brasileiro entre 2015 e 2018, em cinco capitais brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre.

“A pesquisa demonstra que há uma relação entre jogos de futebol e aumento de registros de violência doméstica. Naturalmente, não estamos sugerindo que a causa seja o jogo de futebol, que é uma paixão nacional. Mas esse pode funcionar como uma espécie de catalisador das desigualdades de poder entre homens e mulheres, ao interagir com valores ligados a masculinidade, competitividade, rivalidade, hostilidade, pertencimento, virilidade e, por vezes, à frustração”, disse Beatriz Accioly , coordenadora das áreas de pesquisa e impacto e enfrentamento às violências contra as meninas e mulheres do Instituto Avon.

De lesão corporal dolosa, o aumento em dias de jogos dos clubes das regiões analisadas é de 20,8%. Já nos dias em que o clube é o mandante da partida e joga na cidade, aumenta para 25.9%. Os responsáveis pelas violências são os companheiros e ex-companheiros.

“A violência relacionada ao futebol não é uma exclusividade brasileira e tampouco acontece apenas entre torcidas organizadas. No mundo, em países como a Inglaterra, por exemplo, quando a seleção perde, a violência doméstica aumenta até 38%, segundo análise entre os anos de 2012 e 2013. Nos Estados Unidos, o mesmo é observado na final do campeonato de futebol americano [Super Bowl], que representa um dos piores dias de registros de violência contra meninas e mulheres, com aumento de 40% de casos, segundo um estudo realizado em 1993”, acrescentou Beatriz.

“Infelizmente a violência doméstica é uma realidade não só dos brasileiros, como demonstram os levantamentos realizados no exterior. Mas é uma pena que ainda há poucos trabalhos no Brasil fazendo uma correlação com o futebol. Olhamos pouco para o que ocorre além das quatro linhas e espero que esse estudo possa induzir um debate sério sobre o tema, ainda mais em ano de Copa do Mundo”, destacou a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.

Sobre as cidades, os boletins de ocorrências por ameaça são maioria entre mulheres de 30 e 49 em São Paulo e Rio de Janeiro (49.7% e 49.6%, respectivamente), seguidas por Belo Horizonte (48%).

Quando foca-se em idade, a faixa etária mais afetada é de mulheres entre 18 a 29 anos, principalmente em Porto Alegre (37.4%). São Paulo (36.3%), Rio de Janeiro (35.9%) e Belo Horizonte (35.4%) aparecem em seguida.

“O esporte e a paixão pelo time não podem abrir procedentes para violências contra meninas mulheres. Para evitar que isso aconteça é importante e necessário o debate sobre o assunto, principalmente com os homens, para isso precisamos contar com os próprios clubes e times”, finalizou Beatriz.

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