Coluna

Educação: o único caminho para salvar o Esporte e gerar impacto positivo nas próximas gerações

A forma como os futuros ídolos do esporte vão se posicionar e se tornar referências positivas requer ações no presente

Educação: o único caminho para salvar o Esporte e gerar impacto positivo nas próximas gerações

05 de abril de 2024

7 minutos de Leitura

Ivan Ballesteros
Ivan Ballesteros
CEO e fundador da Esporte Educa, primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país

É preocupante observar que atletas famosos, em sua maioria provenientes do mundo do futebol, estejam se tornando presença comum nas manchetes policiais. O ideal seria terem reconhecimento majoritário por suas habilidades esportivas ou por suas contribuições sociais e inspiradoras para as próximas gerações.

Nos últimos tempos, temos testemunhado situações em que jogadores, ídolos de tempos atrás, serem presos e/ou se envolverem constantemente em escândalos de diversos tipos. Esses atletas deveriam servir de exemplo e referência para as crianças, mas têm sido associados a crimes como: apostas, doping, racismo, lavagem de dinheiro e até mesmo casos de estupro, onde foram julgados e condenados como culpados.

O intuito do meu artigo é abordar esses acontecimentos pela ótica do problema estrutural da educação no Brasil. É óbvio que existem vários problemas estruturais além da educação que contribuem para que tais crimes ocorram. E eu acredito, também, que a condenação desses atletas e o cumprimento da pena, devem servir de exemplo para as próximas gerações, assim como o posicionamento da sociedade contra esses criminosos que um dia foram atletas.

Contudo, é crucial examinarmos a raiz do problema, ou pelo menos uma das ramificações dessa raiz, que é a falta de educação de qualidade em nosso país. Embora a justiça esteja sendo feita, podemos observar pronunciamentos de várias figuras importantes e influentes de forma corajosa e coerente, como o influenciador digital Fred ou até mesmo o Danilo que é capitão da seleção brasileira, mas, ainda resta um questionamento essencial: o que podemos fazer para educar as próximas gerações desde a infância, a fim de evitar que tais incidentes se repitam? Como bem disse o filósofo Pitágoras, há mais de 500 anos antes de Cristo: “Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos”.

Dados sobre o esporte e sua relação com a educação no Brasil

Além de ser encarado como a oportunidade de prover sustento financeiro para suas famílias, o esporte muitas vezes leva alguns jovens a abandonarem os estudos para se dedicarem integralmente aos treinos. No entanto, há outros indicadores que evidenciam os desafios estruturais na educação e formação de atletas. No Brasil, estima-se que haja 17 milhões de jovens envolvidos em práticas esportivas nas modalidades mais populares. Embora dados sobre outras modalidades não estejam disponíveis, é amplamente reconhecido que esse número aumenta significativamente ao considerar outras práticas esportivas.

Entretanto, apenas uma ínfima parcela, cerca de 1%, desses jovens aspirantes a atletas conseguirá alcançar o status profissional. A competição por vagas em grandes clubes esportivos é acirrada, com muitos jovens disputando posições com atletas mais experientes. Ademais, existe o risco constante de lesões que podem comprometer seriamente suas carreiras.

Dos 1% que chegam a se tornar atletas profissionais, é importante ressaltar que 82% deles ganham até o equivalente a um salário mínimo. Além disso, estatísticas alarmantes revelam que 78% dos atletas profissionais enfrentam problemas financeiros ou declaram falência após apenas três anos de aposentadoria. E para agravar ainda mais a situação, cerca de 59% dos atletas ficam sem contrato durante a temporada devido à escassez de calendário esportivo, competições e contratos, o que muitas vezes os leva a buscar uma profissão secundária para garantir seu sustento (DIESPORTE, CBF e NFL).

Dados sobre a educação brasileira

Em nosso país, cerca de 44 milhões de crianças frequentam escolas públicas, onde, lamentavelmente, a maioria não tem acesso a uma educação de qualidade equivalente à oferecida pela rede privada. Embora existam exceções de instituições de ensino públicas exemplares, elas ainda são a minoria. Apenas 9 milhões de crianças e adolescentes têm o privilégio de estudar em instituições privadas. Quando observamos os jovens um pouco mais velhos, constatamos que aproximadamente 30 milhões entre 15 e 29 anos estão fora do sistema educacional, seja no ensino básico ou superior (Mercado Educação, IBGE e MEC).

Focando nas faixas etárias mais jovens, uma pesquisa recente realizada pela UNICEF revelou que cerca de 2 milhões de crianças e adolescentes, com idades entre 11 e 19 anos, não estão frequentando a escola em todo o território nacional. Além disso, a Fundação Roberto Marinho e o Itaú Educação e Trabalho, em colaboração técnica com o Instituto Datafolha, divulgaram uma pesquisa inédita intitulada “Juventudes fora da escola”. Esta pesquisa concluiu que dos 9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que abandonaram o ensino básico no país, 73% expressaram o desejo de retornar à sala de aula.

No entanto, muitos deles são barrados pela necessidade de trabalhar e ajudar suas famílias. Nesse cenário em que muitos jovens interrompem seus estudos para contribuir em casa, vemos milhares deles buscando no esporte uma oportunidade de ascensão financeira. No entanto, considerando a dificuldade já enfrentada pelo jovem não atleta no Brasil para conseguir estudar, imagine como deve ser para aqueles que também têm uma rotina intensa de treinos?

O papel das organizações esportivas na educação integral e formação dos seus atletas

Diante dos números expostos, torna-se claro que no Brasil o esporte e a educação têm crescido de forma desconexa, enfrentando uma série de problemas estruturais. Quando somados, a escassez de oportunidades esportivas em clubes e as dificuldades de acesso à educação de qualidade, ampliam os desafios enfrentados, geram problemas que a ONU identificou como prioritários para serem resolvidos até 2030 com as chamadas ODS.

Compreendendo esses aspectos e reconhecendo que a maioria dos atletas carece de apoio familiar para conciliar esporte e educação no Brasil, é vital que clubes esportivos, marcas patrocinadoras, projetos sociais, startups e o governo desempenhem um papel essencial para auxiliar os jovens nessa jornada. Devemos preparar não apenas o 1% de atletas que se tornarão profissionais, mas também os 99% que não alcançarão esse patamar. É crucial que todos esses jovens tenham a oportunidade de vislumbrar outros caminhos além do esporte, independentemente da duração de suas carreiras. Para aqueles que não seguirão adiante no mundo esportivo, é fundamental apresentar alternativas e oportunidades. Quanto aos 1% que se destacarão como atletas e possivelmente se tornarão figuras públicas, devemos prepará-los para serem exemplos inspiradores para as futuras gerações, dotando-os de consciência ética, cultural, habilidades socioemocionais e habilidades soft skills.

Dessa maneira, estaremos elevando as possibilidades para que nossos filhos acompanhem e se inspirem em atletas que personificam os valores admiráveis do esporte, os quais o tornaram um elemento vital de nossa sociedade. O esporte, ao longo de sua história, tem desempenhado funções diversas e imprescindíveis, transcendendo barreiras culturais e geográficas, estabelecendo-se como uma força unificadora de inclusão social e transformação do ser humano.

No Brasil, a conciliação entre esporte e educação é uma tarefa complexa. Contudo, seguindo as palavras de Nelson Mandela, o esporte tem o poder de mudar o mundo. Eu acredito que a educação pode transformar pessoas, ao unir essas duas forças, podemos construir gerações superiores à nossa.

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