Por Pedro Paiva, consultor sênior da Outfield Ventures
Não é simples fazer parte da elite do futebol brasileiro. Apesar de os clubes com maior torcida frequentemente estarem na primeira divisão, a maioria dos times brasileiros compete nas divisões inferiores. Os benefícios de ascender à Série A são muitos, como por exemplo, o nível do futebol praticado, o número alto de receitas, cotas de TV, premiações, patrocínios e venda de jogadores.
O processo para jogar a Serie A não é nada fácil. Apenas 4 equipes da Série B conseguem o acesso anualmente, o que leva os times de menor expressão a não terem muitas oportunidades de competir no mais alto nível.
Dessa forma, surge uma questão relevante e pouco explorada: “Quanto custa um acesso à Série A?” Em um ambiente do futebol cada vez mais dominado pelo poder financeiro, capaz de fornecer a melhor estrutura dentro e fora de campo, esse questionamento é muito valido para o planejamento dos clubes no início de cada temporada.
É claro que, no futebol, a sorte e o inesperado muitas vezes influenciam o resultado. Entretanto, é necessário considerar que, os custos e investimentos são fatores primordiais para o acesso dos clubes à elite do futebol brasileiro. Afinal, em teoria, quanto mais investimento, mais chances de conseguir bons jogadores e consequentemente bons resultados.
Assim, realizamos um levantamento dos últimos 6 anos da Série B do Campeonato Brasileiro, identificando quanto cada um dos quatro clubes que conseguiram acesso investiram em contratações para o elenco principal, ano a ano. O cálculo foi feito com e sem a presença do ano de 2022, visto que os clubes que subiram naquele ano – Cruzeiro, Grêmio, Bahia e Vasco – são considerados “gigantes” do futebol brasileiro, sobretudo devido ao tamanho de sua torcida, que é muito superior à média nacional.
Na análise dos últimos 6 anos, descobrimos que, em média, os clubes que subiram de divisão gastaram R$10,8 milhões em reforços ao longo da temporada. Por outro lado, com a retirada dos valores de 2022, o montante investido em média na formação de elenco na foi de R$ 6,25 milhões (sempre contabiizando apenas aquisições para o elenco principal).
À exceção do ano de 2022, onde o Grêmio foi o campeão de investimentos em atletas gastando na casa dos R$ 66 milhões, o ano de 2019 teve a maior média de investimentos pelos clubes que terminaram o ano no G4. Muito disso se deve ao Red Bull Bragantino, que desembolsou cerca de R$ 58 milhões em reforços. Após o acesso à elite em 2019, o clube nunca mais foi rebaixado, evidenciando o impacto do capital inorgânico estrategicamente aportado pela empresa austríaca de bebidas energéticas.
Por outro lado, em 2018, os clubes que terminaram nas 4 primeiras posições gastaram apenas R$ 1,2 milhão em média, com Avaí e CSA destacando-se por investimentos abaixo de meio milhão cada, principalmente por se valerem de uma forte montagem de elenco em anos anteriores.
Embora, felizmente, não exista um valor fixo para garantir o acesso – o que retiraria a emoção do esporte que tanto amamos -, os números demonstram que, em geral, é necessário investir no elenco, mesmo com receitas menores do que as da divisão superior. Como bem disse Ferrán Soriano, ex-vice-presidente do FC Barcelona e atual CEO do Grupo City, “a bola não entra por acaso”.
Confira na íntegra os valores que cada um dos 4 clubes que subiu de divisão gastou e sua pontuação final na temporada da Série B.